A PALAVRA DO EDITOR

INDEX LIBRORUM PROHIBITORUM: A CENSURA MODERNA NAS REDES SOCIAIS

Index Librorum Prohibitorum, ou Índice dos Livros Proibidos, era uma lista de publicações consideradas heréticas, anticlericais ou lascivas e proibidas pela Igreja Católica. A primeira versão do Index foi promulgada pelo Papa Paulo IV em 1559 e uma versão revista desse foi autorizada pelo Concílio de Trento. A última edição do índice foi publicada em 1948 e o Index só foi abolido pela Igreja Católica em 1966 pelo Papa Paulo VI. Nessa lista estavam livros que iam contra os dogmas da Igreja e que continham conteúdo tido como impróprio. Hoje vivemos sob a Inquisição dos “progressistas”.

O agravante é que a censura secular moderna vem embalada de “ciência” e de “tolerância”, sendo que se mostra bem mais extremista do que aquela medieval católica. Plataformas que cresceram por se venderem como ambientes neutros, e que por isso tiveram outro tipo de regulação, hoje adotam um Índice de Termos Proibidos, punindo que ousar desafiar o status quo ou a “verdade” decretada de cima para baixo por uma minoria “iluminada”. As redes sociais são as praças públicas modernas, mas elas são controladas por esquerdistas e globalistas que, na prática, não demonstram qualquer apreço pela pluralidade de ideias.

A mídia mainstream tem uma quase hegemonia “progressista” há décadas, e as redes sociais furaram essa bolha. Mas claro que haveria reação. Como essas Big Techs são comandadas por simpatizantes dessa visão “progressista”, os “jornalistas” passaram a pressionar as redes para que filtrassem conteúdo “perigoso”, combatessem “fake news” e “discurso de ódio”. Na prática, isso tem significado perseguição escancarada a conservadores e a todos que se recusam a dizer Amém (ou Awoman) para as “verdades” fabricadas pela própria imprensa ou instituições globalistas.

Cada vez mais páginas que desafiam essa narrativa única são punidas, têm seus conteúdos censurados, banidos, e suas opções de monetização canceladas. Não é de hoje e os conservadores americanos, que sofreram como alvos antes, já denunciam o fenômeno há anos. Mas com a pandemia a coisa realmente cresceu de forma assustadora e perderam qualquer pudor em tentar esconder o ambiente de censura.

No Youtube, eu mesmo fiquei de “castigo”, tomando dois “ganchos” e ficando duas semanas sem poder postar qualquer conteúdo, só por questionar as diretrizes da OMS nessa pandemia. Eis a “política” deles, que recebi no aviso:

O YouTube não permite conteúdo que contesta explicitamente a eficácia das orientações das autoridades de saúde locais ou da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o distanciamento social e o auto-isolamento que podem levar as pessoas a agir contra essa orientação.

No Facebook, por usar um trecho de menos de um minuto do Felipe Neto para expor sua hipocrisia, numa “live” de mais de uma hora, a plataforma considerou que houve desrespeito aos direitos autorais, como se eu estivesse usando vídeo de terceiros para ganhar sem autorização, sendo que claramente não se tratava disso.

Cada formador de opinião mais à direita, e que se recusa a aderir a essa histeria midiática, terá vários exemplos para dar. Uma página conservadora teve uma postagem retirada só por mostrar estudos que atestam a eficácia de tratamento preventivo. Ou aceitamos que a OMS é uma espécie de Deus, ou seremos punidos, eis a constatação. Não posso mais sequer mencionar a Organização Mundial de Saúde nas minhas “lives”, caso contrário serei suspenso, um canal com praticamente meio milhão de seguidores. Vou chamar de Orquestra Mundial do Socialismo, para ver se passa pela censura. Pai, afaste de mim esse cale-se!

Essas “plataformas” viraram instrumentos dos “progressistas”, eis a verdade. Alguns acham que a solução é fugir para um Parler, mas eis o problema: a crescente segregação só interessa à esquerda. Nós queremos o embate de ideias! Nós desejamos a verdadeira pluralidade! Eles, que não vivem da verdade, preferem a divisão tribal, pois assim os independentes e neutros não entram mais em contato com o contraditório. Claro que novas plataformas vão surgir e a competição é a melhor resposta. Mas só “libertário” boboca repete que são empresas privadas e por isso fazem o que bem entendem, esquecendo que deveriam ser plataformas neutras. Ou vamos aceitar operadoras de telefonia decidindo o que pode ou não ser dito pelo telefone agora?!

Em Areopagítica, seu discurso pela liberdade de imprensa ao Parlamento, John Milton iria apresentar argumentos liberais contra a censura prévia. Publicada em 1644, a obra-prima do poeta seria escrita no contexto de batalha parlamentar, já que o líder da Assembléia, Herbert Palmer, havia exigido que um livro de Milton em defesa do direito de divórcio fosse queimado. Para Milton, a censura sempre esteve associada à tirania, e mais recentemente seria fruto do reacionarismo católico do Concílio de Trento e da Inquisição. Ele foi direto ao afirmar que o “projeto de censura surgiu sub-repticiamente da Inquisição”.

Milton defendia que cada um pudesse julgar por conta própria o que é bom ou ruim. “Todo homem maduro pode e deve exercer seu próprio critério”, ele escreveu. Ele diz ainda: “O conhecimento não pode corromper, nem, por conseguinte, os livros, se a vontade e a consciência não se corromperem”. Para ele, todas as opiniões são de grande serviço e ajuda na obtenção da verdade. Os homens não devem, portanto, ser tratados como idiotas que necessitam da tutela de alguém.

Desconfiar das pessoas comuns, censurando sua leitura, “corresponde a passar-lhes um atestado de ignomínia”, considerando que elas seriam tão debilitadas que “não seriam capazes de engolir o que quer que fosse a não ser pelo tubo de um censor”. Para Milton, ao contrário, cada um tem a razão, e isso significa a liberdade de escolher. O desejo de aprender necessita da discussão, da troca de opiniões. A censura, então, “obstrui e retarda a importação da nossa mais rica mercadoria, a verdade”.

Mais tarde, John Stuart Mill iria na mesma linha em seu clássico On Liberty:

Se todos os homens menos um partilhassem a mesma opinião, e apenas uma única pessoa fosse de opinião contrária, a humanidade não teria mais legitimidade em silenciar esta única pessoa do que ela, se poder tivesse, em silenciar a humanidade. Se a opinião é correta, privam-nos da oportunidade de trocar o erro pela verdade; se errada, perdem, o que importa em benefício quase tão grande, a percepção mais clara da verdade, produzida por sua colisão com o erro. Todo silêncio que se impõe à discussão equivale à presunção de infalibilidade. Há uma enorme diferença entre presumir uma opinião como verdadeira porque, apesar de todas as oportunidades para contestá-la, ela não foi refutada, e pressupor sua verdade com o propósito de não permitir sua refutação. 

O único modo pelo qual é possível a um ser humano tentar aproximar-se de um conhecimento completo acerca de um assunto é ouvindo o que podem dizer sobre isso pessoas de grande variedade de opiniões, e estudando todos os aspectos em que o podem considerar os espíritos de todas as naturezas. O hábito constante de corrigir e completar a própria opinião cotejando-a com a de outros, longe de gerar dúvidas e hesitações ao pô-la em prática, constitui o único fundamento estável para que nela se tenha justa confiança. A verdade de uma opinião faz parte de sua utilidade. Se quiséssemos saber se é ou não desejável crer numa proposição, seria possível excluir a consideração sobre ser ou não verdadeira? Na opinião, não dos maus, mas dos melhores, nenhuma crença contrária à verdade pode ser realmente útil.

A posição “progressista” não é uma de força, de convicção genuína, de quem acredita de fato estar do lado da verdade e da ciência. Se fosse, não seria preciso apelar tanto para a censura, a perseguição, a intimidação. Essa postura arrogante e autoritária vem da fraqueza, da insegurança, de quem sabe, no fundo, defender algo sem o devido respaldo científico. Daí a necessidade de calar o outro, de impedir o debate, de interditar o diálogo. Na Idade Média o sujeito podia ser até queimado por desafiar a censura; hoje somos “cancelados”, perdemos o direito de usar as plataformas ou de monetizar nosso conteúdo. Tentam asfixiar nossa própria existência, tal como os fascistas faziam. E tudo em nome da ciência e do nosso próprio bem, claro…

A PALAVRA DO EDITOR

ESSE É GÊNIO

Lula insinua que Bolsonaro é responsável por todos os brasileiros que morreram desde 1.500

“A cada dia que passa, a irresponsabilidade do atual governo mata três vezes mais brasileiros do que todos nossos mortos na II Guerra Mundial”.

(Lula, culpando Bolsonaro por todas as mortes causadas pela pandemia no país, pronto para debitar na conta do presidente da República os pracinhas que morreram durante a 2ª Guerra Mundial)

A PALAVRA DO EDITOR

QUAIS SÃO OS MORTOS?

“Quantos mortos trago vivos
No fundo do meu coração
Dentro de mim quantos vivos
Há muito mortos estão.”

Belmiro Braga

Serão eles os mortos?
Os que estão sob a tumba.
Não, não são eles os mortos!
Mortos são os que vivem
Que sobre os vícios afundam

Serão eles os mortos?
Os que partiram pra vida eterna
Não, não são eles os mortos!
Mortos são os que vivem
Sem dignidade aqui na terra

Enfim, quem são os mortos?
Os espíritos que vagam no firmamento!
Ainda não são eles os mortos
Mortos são os que vivem
Transgredindo os mandamentos

Partindo destes princípios
Sem nenhum medo de errar
Ratifico o que tenho dito
Mortos são os que não creem
Em um Deus Trino a lhes guiar

A PALAVRA DO EDITOR

A PALAVRA DO EDITOR

A ESQUERDA NÃO VIVE SEM HIPOCRISIA (E CENSURA)

A marca da esquerda é a hipocrisia, o duplo padrão, o “faça o que eu digo, não o que eu faço”. Não por acaso escrevi um livro todo só sobre esse fenômeno, o best-seller Esquerda Caviar. Tocou numa ferida, pois expôs toda essa contradição de quem vive para sinalizar (falsa) virtude, enquanto pratica algo totalmente distinto longe dos holofotes.

“A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude”, resumiu La Rochefoucauld. Nessa pandemia a coisa ficou ainda pior. Ela rendeu a oportunidade perfeita para quem vive de bancar o bonzinho. O esforço é quase comovente: essa turma precisa o tempo todo encenar, posar de bom samaritano que sacrifica seus interesses em prol do coletivo, do outro. Tudo mais falso do que uma nota de três reais!

Só nessa semana tivemos três casos. O governador João Doria voltou a fechar bares e restaurantes, na véspera das festas natalinas e de fim de ano, aumentando as restrições com base na “ciência”. Depois pegou o avião e se mandou para Miami, para curtir suas férias! Com a péssima repercussão após ser pego de calça curta, disse que voltou (mas ninguém viu) e fez um pedido de desculpa mais encenado ainda.

A médica Thelma Assis, por sua vez, fez fama no BBB e dinheiro em campanha para o governo de SP, mandando os outros ficarem em casa. Dizem que recebeu quase duzentos mil reais pelo vídeo, em que afirma estar há meses trancada em casa. Nesses dias ficamos sabendo que ela alugou junto com amigas, entre elas a atriz Bruna Marquezine, uma ilha particular para seu Revéillon, e num vídeo dá para vê-la ao lado das companheiras, sem máscara. Fique em casa você, que eu vou para uma ilha privada!

Por fim, o youtuber Felipe Neto foi pego batendo uma pelada com os amigos, e causou algum espanto ele ter amigos. Seus seguranças não foram capazes de impedir o registro das imagens, desta vez, e Rica Perrone colocou a boca no trombone e apontou a mentira do riquinho mimado. Sem muita alternativa, Felipe Neto “pediu desculpas” por esse “descuido”, um caso “isolado”, garante. O ministro das Comunicações do governo Bolsonaro, Fabio Faria, ironizou:

Você não erra jamais, cara! Todo mundo sabe que você jogou de máscara e passando álcool na bola e na trave sem parar. Foi a única vez que saiu de casa este ano e não tirou a máscara nem pra fazer refeições. Você é um exemplo pra sociedade e para as crianças.

Para as crianças certamente ele não é exemplo, mas para algumas “datilógrafas” sim, a ponto de ser convidado para um tradicional programa de entrevistas. Orgulhosa do feito, a âncora ainda colocou novamente em destaque o troço. Afinal, Felipe Neto pode ser um boboca, mas serve ao intuito de atacar o governo, não é mesmo?

E assim segue nossa esquerda, de mentira em mentira, de hipocrisia em hipocrisia, sempre tentando viver da imagem de abnegada. É a visão estética de mundo, onde aparências importam muito mais do que realidade.

Como as redes sociais furaram a bolha e não permitem mais o monopólio hegemônico da imprensa, para repetir como são pessoas maravilhosas esses esquerdistas, eles precisam nos calar. E é por isso que a tentativa de censura só aumenta nas redes sociais, com “cancelamentos” promovidos por inquisidores laranjas, com pressão nas próprias empresas para filtrarem conteúdo conservador etc.

No Youtube mesmo eu já tive duas “lives” canceladas, só por questionar a clarividência da OMS. Não pode desafiar a narrativa fabricada pelos globalistas, pelo visto. Fazer perguntas incômodas não é mais permitido. Mas enquanto houver algum espaço, lá estaremos os que não se curvam diante da patota, os que não aceitam censura, os que buscam a verdade e expõem a hipocrisia. Pai, afaste de mim esse cale-se!

A PALAVRA DO EDITOR

VAI PRA CUBA! E LULA FOI

Condenado em dois processos e respondendo acusações em outros três ou quatro, Lula está passando algumas semanas em Cuba a expensas da sociedade brasileira. Esse benefício desperta sentimento de repulsa, mas é escandalosamente legal. No Brasil, tais regalias são todas concedidas em lei. Os ex-presidentes da República não recebem pensão vitalícia, mas as compensações são muito mais vantajosas. Dilma, por exemplo, pode correr mundo, em 2019, pondo fogo onde houvesse fumaça contra o Brasil, com luxo, assessores e despesas pagas.

Pode isso? Pode, sim. Os ex-presidentes têm direito a dois carros oficiais e oito servidores, entre motoristas, seguranças e assessores cujos salários e despesas de viagem correm por nossa inesgotável conta. Enquanto o presidente recebe R$ 0,37 milhão por ano (R$ 30 mil/mês), em 2019 os ex-presidentes gastaram: valores entre R$ 0,490 milhão (Temer) e R$ 1,07 milhão (Dilma).

Lula, então, está em lua de mel no Caribe. Para todos os efeitos, viajou com o intuito de conceder entrevistas ao cineasta Oliver Stone que está gravando um documentário sobre a América Latina. Espero que o cineasta aproveite aquela excelente base para documentar, em imagens, o fracasso do comunismo cubano num paraíso caribenho que era próspero até 1959 e parou no tempo desde então, malgrado seu pequeno crescimento demográfico (45% em 60 anos) um dos menores do mundo ocidental.

Espero que ele tenha interesse em visitar presos de consciência, condenados por pedirem liberdade, condenados por terem sido acusados de conspiração contra o Estado por uma polícia política e uma justiça afinada com esta e com o governo comunista da ilha. Seria uma excelente matéria para o documentário e, para Lula, uma informação que talvez o faça compreender o mal que ele os seus causaram ao povo cubano. Junto com Fidel Castro, Lula criou o Foro de São em 1990 e, a partir de 2003, os governos de seu partido financiaram aquela ditadura que ontem completou 62 anos.

Um olhar cuidadoso e responsável sobre as instituições da ilha mostraria uma Assembleia Nacional cujos membros pertencem, todos, ao mesmo partido comunista e que jamais, em seis décadas, rejeitou algo vindo do governo. Mostraria que os juízes do Tribunal Superior Popular são escolhidos pelo Conselho de Estado (um colegiado extraído da Assembleia Nacional) e submetido à mesma Assembleia Nacional. É um esquema em que o totalitarismo se impõe num círculo fechado e no qual tudo se opõe à democracia; em que tudo e por tudo carece de legitimidade.

Talvez deva Oliver Stone ler as duas primeiras páginas da novíssima constituição cubana (2019), cujo art. 5º define:

“O Partido Comunista de Cuba – único, martiano (de José Martí), fidelista (de Fidel Castro), marxista, (de Karl Marx), leninista (de Vladimir Lenin), vanguarda organizada da nação cubana, sustentado em seu caráter democrático e na permanente vinculação com o povo é a força política dirigente superior da sociedade e do Estado”.

Bestialógico tão hipócrita e contraditório só poderia nascer, em pleno século XXI, entre mentalidades abusada e doentiamente totalitárias.

A PALAVRA DO EDITOR

REFLEXÕES PARA UM 2021 CHEGADO

Morremos muitas vezes ao longo dos doze meses passados quando amigos se vão, diante dos punhais cravados pelos parentes aparentes, pelas animalidades praticadas pelos dirigentes de mentirinha, pelos preconceitos vários praticados, pelas merdalidades machistas presidenciais contra uma ex-presidenta, pelas arrogâncias dos cretinos que corroem um muito debilitado humanismo século XXI, quando dirigentes megalomaníacos se passam por salvadores do mundo ou quando sectários sem mínima cultura buscam jogar povos e nações uns contra os outros pela internet, depois apagando a brabeza todos cagados.

Ao longo das nossas vidas, diante da inexorabilidade da morte, tomamos quatro atitudes diferentes. Quando crianças, a morte nos é indiferente. Nutrimos por ela uma curiosidade idêntica às demais sentidas diante do imprevisto. Nenhum valor específico lhe atribuímos, posto que ela não provoca reação mais profunda. Um acidente da vida como outro qualquer. O escuro, quando se é criança, provoca muito mais medo que a própria morte. Para não falar das almas do outro mundo. Brinca-se até de morto como se brinca de bandido ou de mocinho. Ou de professor. Ou de dona de casa, as meninas-da-casa fazendo comidinha para as meninas-visitas, as mais sabidas.

Na adolescência, entretanto, principiamos a pensar na morte. Idealizamos a morte, mitificamos a morte. Começamos a pensar na própria morte. E principiamos a morrer, diante dos primeiros desmoronamentos provocados em nosso castelo-derredor. Mas ainda encaramos a morte como final de uma aventura, sem tropeços nem maldades, apenas coroamento, sem as pedras do caminho. Na juventude, a morte torna-se companheira quase brincante. Conceito romântico, substituindo a indiferença da primeira idade.

A inimizade se inicia na porteira da maturidade. A morte torna-se a maior inimiga, temida, mais analisada filosófica e religiosamente. A indagação de São Paulo inquieta: “Morte, onde está tua vitória?” A morte é término ou passagem? Túmulo ou túnel, como magistralmente um admirável pastor costumava dizer em suas pregações. Com crença ou sem ela, a agonia da morte se torna presente e o viver um contínuo e resoluto foco de resistência.

No último quadrante da vida, entretanto, “a mesa está posta e a cama feita”, como nos dizia o poeta Bandeira, que vivia aos trancos e barrancos com a Última Dama. Nessa fase, exige-se muita serenidade, capacidade de rever caminhadas menos felizes, emergindo a convicção de que bem outras seriam algumas das estratégias tomadas se os fatos fossem encarados com a mentalidade de agora.

Creio que a concepção da morte é determinada pela concepção que se faz da vida. Superar a morte, eis o desafio maior dos libertos dos encantamentos supérfluos, das prestimosidades dos lambetas, das “influenciadoras” sabichonas, dos burregos tecnocratas que desconhecem os valores de uma sociedade emergente e dos recalcados que se imaginam eternas vítimas, cordeirinhos imolados de um mundo que não os compreende.

Que 2021 nos proporcione, já bem vacinados, reflexões capazes de favorecer um caminhar dignamente resoluto, solidário, fraterno e bem mais humanístico na direção do ômega chardiniano. Sem medo de ser feliz, sob nenhuma hipótese. Sabendo dormir sem arma alguma e de mente pacificadora sem culpas nem complexos. Tampouco sem os machismos escrotos dos incultos e mentalmente ananicados. E com memoráveis encontros fubânicos, sempre sob as batutas do Luiz Berto e do Maurício Assuero, o primeiro idealizador e o segundo gerente geral da escrotaria.

A PALAVRA DO EDITOR

CIRANDA EM TORNO DOS COFRES PÚBLICOS

O moço na TV era um de muitos, no mundo acadêmico e nos meios de comunicação, que fazem análise marxista até sobre chinelo velho. Em toda oportunidade se referem aos artefatos e serviços de proteção que usamos como se equivalessem às defesas com que os grandes traficantes se cercam em seus bunkers.

Descrevem uma realidade que domina a paisagem urbana das cidades brasileiras, como sendo coisa de gente preconceituosa, paranoica e indiferente à miséria alheia. Dizem-nos assim: “Vocês se isolam do mundo, cultivam preconceitos, matriculam os filhos em escolas particulares também protegidas por grades e agentes de segurança”. No entanto, bem sabemos todos quanto esses cuidados são indispensáveis num país onde o crime espreita em cada esquina, porta de garagem, restaurante ou agência bancária.

A espiral ascendente da bandidagem não para de se ampliar desde que a análise marxista substituiu a lei pela tolerância ideológica às suas práticas. Ao mesmo tempo, o Estado passava a gastar mais e mais consigo mesmo do que com suas funções essenciais. A violência aumenta pelo simples fato de que há criminosos em excesso circulando livremente em nossas ruas e estradas. E o sujeito da telinha, embora não tenha referido isso, certamente afirmaria, se lhe ocorresse, que “prender não resolve”. Claro que só prender não resolve, mas, ainda assim, resolve mais do que a impunidade, resolve mais do que o “não dá nada”.

Outro dia escreveu-me um leitor queixando-se dos golpistas que telefonam pedindo dinheiro através do Whatsapp (truquezinho idiota que virou uma praga). Respondi a ele que isso só acontecia porque quando viesse a ocorrer a improvável prisão de um tipo desses, não faltaria quem mandasse soltá-lo com méritos de bom cidadão por se dedicar a um golpe de tão baixa lesividade.

Sujeitos como o de nariz torcido na telinha da tevê querem provar, com ares solenes e doutas perspectivas, que somos os réus dos crimes que contra nós praticam; que somos uma espécie de celerados sociais, atemorizados com as consequências dos males que advêm de nossa resistência às suas fracassadas utopias, às suas estrelas e bandeiras vermelhas. Proclamam que existem pobres porque existem ricos.

Rematadas tolices! Todo o posto de trabalho vem da riqueza gerada pelo setor privado. Todo! Inclusive o emprego público, remunerado pelos tributos incidentes onde haja produção. O Estado é um gastador da riqueza gerada por quem produz. O que mais esperam os desempregados nos países em crise devido à pandemia é que suas economias nacionais comecem a vender, as empresas privadas a produzir e a reempregar, e a sociedade volte a consumir. Há alegria nos mercados quando os indicadores apontam sinais positivos no mundo dos negócios.

O que os adoradores do Estado, que sonham com voltar ao poder e dançar ciranda em torno dos cofres públicos, não contam para você, leitor, é que a verdadeira concentração de renda, nociva e ativa, empobrecedora, que paralisa a atividade econômica como picada de cascavel derruba a vítima, é o Estado que se apropria de quase 40% do PIB nacional. Aí está a causa da pobreza do pobre: o Estado, esse concentrador de renda nas próprias mãos. O Estado, que, mesmo quando não se deixa roubar, sustenta obrigatoriamente incontáveis cortes, gastos secretos, luxos inauditos e extravagantes comitivas. Como não poderia deixar de ser, esse Estado entrega aos pobres do país, em péssimas condições, a Educação, a Saúde e o Saneamento que, se bons fossem, lhes permitiriam sair da miséria e cuidar bem de si mesmos.

A PALAVRA DO EDITOR

O DATA BESTA QUER SABER

O Instituto Data Besta, o mais sério e respeitado da praça, está nas ruas novamente. 

Uma nova enquete está nos ares.

Vá aí do lado direito do JBF e cumpra seu dever cívico-fubânico.

Dê o seu pitaco e tenha um excelente final de semana!

A PALAVRA DO EDITOR

UMA MENSAGEM DE FÉ E ESPERANÇA

O ano de 2020 foi embora e muitos disseram: “Ufa!”. Não sem razão. A pandemia prejudicou ou mesmo tirou a vida de milhares de pessoas. Quem não perdeu amigos e parentes para o vírus chinês certamente conhece gente que perdeu o emprego. Como se a pandemia em si já não fosse ruim o suficiente, a reação a ela foi sem precedentes, e em vários países vimos os cidadãos tratados como súditos, sempre em nome da ciência. A pandemia aflorou o lado tirânico de muito governante, não resta dúvida.

Por isso mesmo gostaria de iniciar 2021 com uma coluna em tom mais otimista, com uma mensagem de fé e de esperança. A vida já tem sua cota elevada de tragédias e sofrimentos, e a mídia abutre não ajuda, com suas “manchetes olímpicas”, como diz Silvio Navarro, praticamente comemorando a desgraça alheia. Mas chegamos vivos aqui, e isso merece nossa atenção e nossa reflexão. Qual vida queremos preservar? Sobreviver, continuar respirando, não pode ser a única meta. Queremos uma vida com significado, vivemos em busca de sentido.

Em meio ao burburinho da vida, em nossas discussões políticas diárias, tentando prosperar no trabalho, preservar a família, às vezes nos esquecemos de dar um passo para trás, pausar um pouco, e refletir. Esta época costuma ser propícia a esse exercício. Vamos, então, retirar-nos para a colina, tentar enxergar a floresta em vez de focar apenas as árvores. Vamos agradecer a vida, demonstrar essa gratidão tão em falta na era do ressentimento e da vitimização. Vamos abandonar um pouco aquilo que é profano e mergulhar no sagrado, mirar no eterno, atemporal, despir-nos de nossas máscaras protetoras no teatro da vida, deixar de lado nosso narcisismo. Peço ajuda ao poeta Ângelo Monteiro, com trechos de seu O Ignorado:

Da nossa mais profunda dor sobe o apelo à Grande Mãe. Sempre perdida, jamais encontrada, mas ainda assim ansiada na perpétua agonia de nossas vidas volteando sem cessar ante o altar da Mãe. Ah! O altar da Mãe é também o altar do Verbo. Porque nele cresce e se debate o desespero – ainda que prenhe da mais dolorosa esperança – da chama dessa vela que ora morre, ora revive: nossa alma revolta e transviada que deseja se fundir em algo melhor do que ela mesma, em sua necessidade, em sua culpa, em sua dor, em sua permanentemente frustrada aventura de alegria.

[…] Cada época tem sua astúcia. Mas além da astúcia está o lago. O lago em que o Patinho Feio se reencontrou, segundo Andersen. E onde Narciso se perdeu, segundo o mito grego. Cada época precisa ir além de Narciso. Recolher, em meio ao caos que sempre houve, os paradigmas eternos. A arte, emergindo da vida, deve ser por isso paradigmática: não pode abandonar os arquétipos. Deve também ser normativa: ensinar ao homem a sua redescoberta. Fazê-lo voltar às nascentes do ser, como na sentença socrática: “Conhece-te a ti mesmo”. Toda arte verdadeira será como as histórias de fadas e os Evangelhos: pedagógica. Em sua pedagogia, a arte fará o homem enfrentar-se com o escuro, perder-se nele antes de vir à tona para a vida. E transmitir aos outros uma lição de mistério.

[…] Mas não são os saudosistas – cultores do pó, da cinza e da ruína – que irão apontar o caminho do regresso à origem. Os saudosistas pertencem apenas ao passado. Nem serão as mariposas do momento, que gravitam ante as luzes vazias dos postes iluminados de slogans, que hão de merecer nossa atenção mais régia. Acredito, apesar de tudo, que ainda possam existir homens. […] Quando a Fé é um dom que se tornou impossível de ser apreendido, por causa do tumulto de turvos tempos, a espada possui a força de iluminar os homens ainda mais poderosamente que uma estrela. O seu brilho estonteante, ao querer tombar sobre as cabeças dos que se desvirilizaram por ausência de uma razão para crer, pode, de maneira fulminante, como a mais luminosa das intuições – e com o raio do seu fascínio celeste -, desperta-lhes de vez a mais inexistente fé. E a Fé será, então, o brilho de uma espada sobre aqueles que se recusam a morrer.

[…] Há homens que vivem no medíocre como na mais plena das beatitudes. Eu não sou um desses homens. Anuncio que vislumbro outro mundo – um mundo de lutas gloriosas e, por isso, de poesia e de música – que seja o extremo oposto do uivar sem esperança daqueles que renunciaram à saída por qualquer porta.

[…] Impossibilidade é a palavra predileta dos fracos. Ao Deus que está no Homem nada é impossível. Ao Deus que está no Homem o possível é uma extensão do próprio querer.

Em Mapas do Significado: a Arquitetura da Crença, Jordan Peterson mistura psicologia, mitologia e filosofia para nos revelar o papel do herói revolucionário, aquele que enfrenta o caos para chegar à ordem, dando sentido ao que parece sem sentido. Toda cultura segue um padrão similar, como já mostrara Joseph Campbell em O Herói de Mil Faces (The Hero with a Thousand Faces). É essa aventura que nos interessa, inspira-nos. É o processo que importa, não algum ponto de chegada qualquer. Jordan Peterson explica:

O ponto de uma sinfonia não é sua nota final, embora ela avance inexoravelmente para esse fim. Da mesma forma, a finalidade da existência humana não é o estabelecimento de algum modo de ser estático, perfeito — o homem acharia tal perfeição intolerável, como Dostoiévski se esforçou para ilustrar. Em vez disso, a finalidade humana é a geração da capacidade de se concentrar nos eventos inatamente interessantes e afetivamente significativos do presente, com suficiente clareza e consciência, para tornar desnecessária a preocupação com o passado e o futuro.

Peterson usa, em seguida, uma passagem bíblica da mensagem de Cristo:

Observai como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Eu, contudo, vos asseguro que nem Salomão, em todo o esplendor de sua glória, vestiu-se como um deles. Então, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? Portanto, não vos preocupeis, dizendo: Que iremos comer? Que iremos beber? Ou ainda: Com que nos vestiremos? Porque nosso Pai celestial sabe que necessitais de todas essas coisas. Buscai, assim, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. É suficiente o mal que cada dia traz em si mesmo.

Essa última sentença, para Peterson, não significa viver a vida da cigarra em vez da formiga, cantar no verão e passar fome no inverno, fugir pelo hedonismo, o carpe diem, mas concentrar-se na tarefa em mãos, viver, de fato, seu presente, responder ao erro, quando cometido, prestar atenção. Ele acrescenta:

Viver em pleno reconhecimento de sua capacidade para o erro – e sua capacidade de retificar tais erros. Avançar na confiança e na fé; não encolher, evitando o inevitável contato com o terrível desconhecido, viver em um buraco que diminui e fica mais escuro. O significado da paixão cristã é a transformação do processo pelo qual o objetivo deve ser alcançado no objetivo em si: a transformação da “imitação de Cristo” – o dever de todo cidadão cristão, por assim dizer – na personificação da existência corajosa, verdadeira, individualmente única.

E com isso, meus caros, quero desejar a todos um excelente 2021, finalizando com as saudações bíblicas aos Coríntios:

Por fim, irmãos, vivei com alegria. Tendei à perfeição, animai-vos, tende um só coração, vivei em paz, e o Deus de amor e paz estará convosco. Saudai-vos uns aos outros no ósculo santo. Todos os santos vos saúdam. A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!