A PALAVRA DO EDITOR

RESPEITÁVEIS SENHORAS

O tempo é o senhor da razão. Entre outras coisas, ele nos ensina a contornar traumas, superar tristezas, conviver com frustações e tornar suportáveis desilusões. O tempo cura tudo, menos velhice e loucura, diz o ditado popular. Além de não curar a velhice, ele deixa de saldo marcas inarredáveis e indesejáveis no corpo humano.

Não escondo nenhum trauma devido o avançar dos anos. Sou apenas um agradecido cultor do passado e atento observador das mudanças de comportamento, feições e estilos que acompanham a evolução do tempo. Em outras palavras, procuro a melhor forma de conviver e de me adaptar ao modernismo sem desdenhar do pretérito nem esquecer as boas lembranças que delinearam um período feliz da existência.

Constato com tristeza, por exemplo, como o tempo pôde ser cruel com a aparência física de determinados homens e mulheres de outrora. De mulheres, principalmente, por razões óbvias. Ao me deparar com minhas conhecidas de antigamente, hoje respeitáveis senhoras, transporto-as em pensamento para a nossa época e aí se acentua o inconformismo.

Aflora-me o desejo de modificar o inalterável, como se fosse possível interromper o final de um dia ou o nascer de outro. São divagações eventuais induzidas pelos imutáveis paradigmas da vida.

As respeitáveis senhoras de hoje viram o nascimento da Bossa Nova e da Jovem Guarda, e acompanharam as trajetórias dos Beatles e de Elvis Presley. Deslizaram de rostos colados nos salões de clubes da moda ao som de Ray Conniff, e suspiraram embevecidas com os filmes de Pat Boone e com canções de Frank Sinatra.

Estudaram em colégios tradicionais e se esmeraram em boas maneiras em escolas especializadas, para se diferenciarem e desposarem os respeitáveis senhores de hoje, bons partidos de antigamente.

Com as suas silhuetas modificadas pela maternidade e pela idade avançada, as respeitáveis senhoras de hoje foram, meio século atrás, donzelas virtuosas, recatadas e belas. Posaram de modelos, disputaram concursos de misses, trabalharam como garotas-propaganda e despertaram em muitos marmanjos desejos inconfessáveis.

Acreditem! Possuíram seios firmes, bumbuns empinados, quadris bem talhados, pernas torneadas e rostos angelicais. Vestiram-se com esmerada elegância e esbanjaram charme. Sonharam com príncipes encantados desfrutando do aconchego de lares estáveis. Muitas foram alvos de amores platônicos e de paixões arrebatadoras. Destroçaram corações e, sem nem de longe imaginar, povoaram mentes poluídas em sessões intermináveis de onanismo juvenil.

As respeitáveis senhoras de hoje ocuparam, no passado, espaços semelhantes aos preenchidos agora por suas filhas e netas, provocando os mesmos enlevos e paixões entre rapazes em situações ditadas pelos costumes da época. Passaram por momentos de alegria e de tristeza, tiveram decepções amorosas, sonharam esposando príncipes encantados e viram seus sonhos destruídos.

As respeitáveis senhoras de hoje são também nossas esposas, mães de nossos filhos e avós dos filhos dos filhos. Foram musas de um passado dourado presente agora somente nas lembranças nossas e delas. Mesmo desprovidas do viço da juventude, hoje, as senhoras respeitáveis representam o prêmio maior que o destino reservou para coroar as trajetórias de nossas existências efêmeras.

A PALAVRA DO EDITOR

PENSAMENTO

Recebi ontem, via zap, uma mensagem do meu amigo-irmão Rubão, um conterrâneo muito especial de Palmares.

Ele me encaminhou um pensamento do nosso amigo comum Esmeraldo Boca-de-Fossa, peruador filosofofista e grande analista de sociologia putárica em nossa terra de nascença.

Uma frase que Esmeraldo pronunciou durante conversa no bar de Edileuza Priquito-de-Alicate, localizado no Beco do Esconde-Nêgo.

Vejam que coisa sublime e antológica:

“Mulher de amigo meu é igual a muro alto: sei que é perigoso, mas eu trepo.”

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CABEÇA BALDIA

Dilma Rousseff louva o protagonismo mundial que Lula jurou existir e só a companheirada acreditou

“O Brasil saiu de uma postura protagonista que tinha nas épocas do presidente Lula e da minha, em que nós tínhamos, de fato, um posicionamento em relação à participação e à posição do Brasil”.

Dilma Rousseff, reaparecendo no palco para evocar um protagonismo mundial que só existiu no palavrório de Lula e na cabeça baldia da sucessora.

A PALAVRA DO EDITOR

AS LUZES DE NATAL

Veja como são bonitos os palácios
E veja como são pobres os campos,
O quanto estão vazios os celeiros dos camponeses
Enquanto os bem-nascidos usam ornamentos
Ocultando armas afiadas.
E, quanto mais eles têm, mais eles tomam,
Como pode haver homens como esses,
Que nunca têm fome, nunca têm sede,
E ainda assim comem e bebem até estourarem!

Verso 53 do Tao Te Ching segundo Witter Bynner

Um homem, na noite de Natal, de tão bêbado que estava, vomitava até não mais ter o que vomitar. Contorcia-se como um porco no matadouro. As faces rosadas de tão gordas, refletiam-se nos enfeites de Natal, nas bolas coloridas, nas estrelas prateadas, douradas, reluzentes. Mesmo assim, depois de ter vomitado tudo o que tinha comido, depois de ter-se esvaziado e exaurido o estômago da comida azeda e gordurosa, voltava ofegante ao banquete, enchendo os olhos da gula, enquanto salivava diante da fartura servida na mesa e a boca cheia de dentes abria-se numa gargalhada insana, rindo do próprio vexame diante dos convivas. Na mesa farta, empanturravam-se homens como ele, senhores do garfo e do copo, no meio de perus fumegantes, garrafas de vinho, facas e garfos, numa roda de escarnecedores.

Ao redor da mesa corriam inocentes crianças com seus brinquedos novos. As mulheres, cativas, serviam aos homens gordos e também se empanzinavam metidas em seus vestidos magros, reluzentes, vestidos de festa, alugados a peso de ouro nas boutiques esnobes.

No canto da sala, esquecido e imóvel, um pinheiro impassível, na verdade um pedaço de árvore morta, simbolizava o desabrochar da morte de Ninrode para uma nova vida, todo coberto de bolas coloridas, quais cabeças decepadas dependuradas e luzinhas intermitentes, completando o quadro dedicado a Saturnália, o ritual de adoração a Ninrode, Tamuz e a Semírames, o sarau dedicado ao Deus-Sol, com o presépio em miniatura, que é nada mais do que um altar dedicado a Baal.

Do lado de fora da festa, uma família pobre, iluminada pelas luzes de Natal, ora azuis, ora vermelhas, ora amarelas, esperava e espreitava, quem sabe por um pouco da ceia para seus filhinhos descalços que corriam em volta da carroça dos catadores de lixo, com seus brinquedinhos de pobres. Vez por outra corriam para catar uma latinha de cerveja jogada no meio da rua pelos homens gordos. Aquilo sim é que era um presente!

As mulheres cativas metidas em seus vestidos de festa reluzentes e impecáveis iam e vinham, atarefadas e sorridentes, servindo aos maridos embriagados, glutões contadores de proezas, exímios falastrões e zombeteiros. Incomodadas com a presença da família de catadores de lixo que avidamente espreitavam pelas sobras do banquete, asseguravam-lhes severamente que no final lhes reservariam um pratinho para cada um deles e que não havia a necessidade de permanecerem ali, pois estavam importunando os convidados. A família pobre assentia quais cães famintos, recuando aos poucos para as sombras, de modo que ficassem invisíveis.

À meia-noite todos se abraçaram fraternalmente, desejando Feliz Natal, a Paz de Cristo, isso e aquilo, numa profusão de risos, beijos e brindes com as taças translúcidas e espumantes. Lá fora a família de pobres, oculta nas sombras da noite, era iluminada pelas luzes de Natal. Seus filhinhos já dormiam enrolados nos papelões e jornais velhos, alheios aos festejos natalinos e aos estampidos dos fogos de artifício intermináveis que ribombavam repetidas vezes, clareando o céu em desenhos magníficos, acordando os passarinhos.

Os pobres pais maravilhados com o espetáculo do nascimento do menino-deus estavam ainda ávidos de fome e esperançosos, aguardavam ainda as sobras do banquete, encolhidos na calçada, invisíveis, entre as caixas de papelão, escondendo-se por causa do cortante frio da noite, iluminados pelas luzes de natal.

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UM NATAL DE KAROL WOJTYLA

Ressoa nesta noite, antigo e sempre novo, o anúncio do Natal do Senhor. Ressoa para quem está alerta, como os pastores de Belém há dois mil anos; ressoa para quem aderiu ao apelo do Advento e permanecendo atento, está pronto a acolher a mensagem feliz que canta a liturgia: “Hoje nasceu o nosso Salvador”, (João Paulo II, homilia de Natal do ano 2000).

Dias antes dessa homilia, leigo católico cativado pela vida e obra de tão extraordinário pontífice, escrevi um artigo reivindicando para ele o título de “Magno”, reservado pela Igreja a poucos, como São Gregório Magno e Leão Magno, que marcaram o Cristianismo, o papado e suas respectivas épocas de modo definitivo, com incomparável – a palavra continua sendo adequada – magnitude.

Gregório, misto de romano da velha estirpe e de monge capaz do maior ascetismo, como o descreve Daniel-Rops, emerge numa época em que o Império Romano sucumbira às hordas bárbaras. Era preciso começar tudo outra vez e Gregório percebe que a evangelização dos invasores deve ser conduzida como obra de toda a Igreja. Gregório Magno faz a síntese das duas cidades de seu muito admirado Agostinho: pés e mãos na cidade dos homens; olhos e coração na cidade divina.

Leão, dois séculos antes, vivera as lutas contra o declínio do Império, salvando o que podia. E nesse enfrentamento atribuiu à Sé Apostólica um primado religioso, moral e cultural que ela nunca mais haveria de perder.

É bem conhecido o episódio do encontro entre o terrível huno Átila e Papa Leão I. O “Flagelo de Deus” varria o Império e se preparava para lançar um ataque definitivo sobre Roma. À margem do Míncio vê, no lado oposto, um curioso cortejo aproximar-se em sua direção, entoando cânticos. Eram sacerdotes, monges e diáconos, portando cruzes, pendões e ostensórios, conduzidos por um ancião de barbas brancas. Átila avança com seu cavalo até um banco de areia e o interroga: “Como te chamas?”. No silêncio que se seguiu, o ancião responde: “Leão, papa!”, e cruza o rio ao seu encontro.

A posterior narrativa de Leão ao imperador Valentiniano sobre esse episódio, que acabou dando origem a muitas lendas, não revela o conteúdo do diálogo que manteve com Átila. Certo, porém, é que o “Flagelo de Deus” recuou.

Foi pensando em personagens assim, extraordinários, que sugeri em artigo, às vésperas do Natal de 2000, o cognome Magno a João Paulo II. Eu o via conjugar as virtudes de Gregório e Leão. Intelectual, valente e diplomático como o primeiro, político e asceta como o segundo, reprovou energicamente quaisquer guerras, levou chumbo e cruzou todas as fronteiras com a mensagem da solidariedade e da paz. Fez penitência, orou, escreveu, foi firme e fiel. Como Leão, foi ao encontro do Átila soviético. Teve atuação decisiva no recuo daquele regime, na queda do Muro, na democratização do Leste Europeu. Conseguiu, até mesmo, que os católicos de Cuba pudessem comemorar, publicamente, o Natal do Novo Milênio.

Assim o via, também, a multidão dos fiéis. Em 8 de abril de 2005, seu velório foi assistido pela TV por 1 bilhão de pessoas. Quatro milhões se reuniram nas praças e ruas de Roma. Trezentas mil na Praça de São Pedro. Representações oficiais de 200 países. Foi o maior funeral da História da Igreja. De repente, naquela multidão, irrompe um brado que se reproduz nas praças, nas ruas, nas sacadas, nas telas: “Santo súbito!”. Levem logo esse homem de Deus, esse irmão de fé, aos altares! – estavam a clamar em uníssono.

Assim foi o grande Karol Wojtila, São João Paulo II, Magno em vida, referência da minha geração, cujos Natais nunca foram “politicamente corretos”. Feliz Natal a todos!

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DISFUNÇÃO

A disfunção da atividade cerebral na política brasileira de hoje, como diriam os psiquiatras nas descrições sobre transtornos de comportamento, nos deixou na seguinte situação: a exemplo das ofertas de pasta de dente, se você é contra Bolsonaro, leva um Doria de brinde; e se você é contra a esquerda em geral, leva um Bolsonaro no pacote. A diferença, e aí vai uma bela diferença, é que a oferta da pasta de dente é opcional – só leva quem quer. Na política, hoje em dia, tornou-se obrigatória.

Ou seja: o cidadão tem de levar um Doria se quiser militar na “resistência” ao bolsonarismo, goste ou não goste, e tem de levar um Bolsonaro se não quiser que o PT, ou coisa parecida, volte a mandar no Brasil.

Não parece justo, mas aí é que está – a vida frequentemente não é justa. Fazer o que? Num mundo mais equilibrado, deveria ser aceitável que o cidadão não gostasse por igual de nenhum deles – já que parece impossível gostar dos dois ao mesmo tempo. Mas o mundo real da política brasileira não é equilibrado. Gente existe de sobra. O complicado é achar um que valha alguma coisa por si próprio – e não porque é, simplesmente, um antídoto contra o outro, ou a única alternativa considerada viável para evitar o chamado “mal maior”.

O resultado é que não se pode fazer quase nada sem sofrer efeitos colaterais. Por exemplo: se o sujeito faz alguma objeção ao fato de que a “vacina do Doria” até há pouco não tinha sido aprovada em nenhum país-estrela do primeiro mundo, ou mesmo do quarto ou quinto, é imediatamente acusado de ser “gado bolsonarista”.

Corrupção nas vendas sem licitação por conta da covid? Violação flagrante dos direitos individuais? Transformação do combate à epidemia em operação de marketing? Doria decreta a volta da “fase vermelha” e vai passar as festas em Miami? Não é mais possível apontar qualquer dessas aberrações sem incidir no delito de bolsonarismo explícito.

Qualquer restrição à alguma coisa feita pelo presidente da República, ao mesmo tempo, é automaticamente acompanhada da seguinte praga: “Então vota no Doria” – ou “no Haddad”, o que, francamente, não alivia nada. Assim fica difícil.

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O INSTITUTO DATA BESTA ESTÁ NAS RUAS

Classificado por todos, de norte a sul, de leste a oeste, como sendo o melhor jornal do planeta, o JBF também tem o melhor instituto de pesquisas deste país.

O Instituto Data Besta,  invejado e odiado pelo Data Folha, está com nova enquete nos ares.

Todos os nossos leitores estão convocados para exercer sua digna cidadania fubânica.

Vá aí do lado direito desta gazeta escrota e dê o seu pitaco.

Uma excelente quinta-feira natalina pra todos vocês!!!

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