CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

Prezado Editor do Jornal da Besta Fubana,

Ontem, quinta-feira, tivemos o prazer imenso de ter no Cabaré do Berto o poeta gigantesco Dedé Monteiro, diretamente de Tabira, Pernambuco, com a palavra.

Foi uma noite inesquecível, quando ele falou de suas origens e declamou seus belos poemas.

Não só ele, outros tiveram a oportunidade de falar poesias de Dedé Monteiro e de contar histórias envolvendo o magnífico personagem.

Aliás, tivemos recorde absoluto de presenças. Quando se soube quem iria comparecer e falar para o distinto público, a turma correu a se conectar – e tivemos, pela primeira vez desde que essa programação começou, mais de 40 pessoas participando da tertúlia.

Em certo momento, tu, cabra safado, adiantou-se e leu três estrofes do genial poema de Dedé Monteiro, Fim de Feira, inclusive a primeira e a última, quando eu tomei a palavra e disse que tu fizeste “spoiler” e que depois explicaria por quê eu dizia isso.

Digo agora:

Fazer “spoiler” é a expressão que atualmente se usa para dizer que alguém revelou antecipadamente o fim do filme, ou o fim da história.

É que Maurício Assuero tinha combinado que ao final cada um recitaria uma delas – e tu melaste a programação, que seria a que vai abaixo:

FIM DE FEIRA – de DEDÉ MONTEIRO)

1) CONSTÂNCIA UCHÔA

O lixo atapeta o chão
Um caminhão se balança
Quem vem de fora se lança
Em cima do caminhão
Um ébrio esmurra o balcão
No botequim da esquina
O gari faz a faxina
Um cego ensaca a sanfona
E um vendedor dobra a lona
Depois que a feira termina.

2) JESUS DE RITINHA DE MIÚDO

Miçanga, fruta, verdura,
Milho feijão e farinha,
Bode, suíno, galinha,
Miudeza, rapadura.
É esta a imagem pura
De uma feira nordestina
Que começa pequenina,
Dez horas não cabe o povo.
E só diminui de novo
Depois que a feira termina

3) NETO FEITOSA

Na matriz que nunca fecha
Muito apressado entra alguém
Mas sai vexado também
Se não o carro lhe deixa
O padre gordo se queixa
Do calor que lhe domina
E agita tanto a batina
Quem que vê fica com pena
Toca o sino pra novena
Depois que a feira termina.

4) MAURINO JÚNIOR

A filhinha do mendigo
Sentada a seus pés, num beco,
Comendo um pão doce seco
Diz: papai, coma comigo.
E o velho pensa consigo
Meu deus, mudai sua sina
Pra que minha pequenina
Não sofra o que eu sofro agora
Ri a filha, o velho chora
Depois que a feira termina.

5) MARCOS ANDRÉ

Um pedinte se levanta
Da beira de uma calçada
Chupando uma manga espada
Pra servir de almoço e janta
Um boi de carro se espanta
Se o motorista buzina
Um velho fecha a cantina
Um cachorro arrasta um osso
E o pobre “azavessa” o bolso
Depois que a feira termina

6) GOIANO

Um camponês se engana
Chega atrasado na feira
Não compra mais macaxeira,
Nem batata, nem banana
Empurra a cara na cana
Pra esquecer a ruína,
Arroz, feijão, margarina,
Açúcar, óleo, salada,
Regressa e não leva nada
Depois que a feira termina

7) RENATA DUARTE

No açougue da cidade
Das cinco e meia em diante
Não tem um pé de marchante
Mas mosca tem com vontade
Um faxineiro abre a grade
Tira uma mangueira fina
Rodo, pano, creolina,
Deixa tudo uma beleza
Mas só começa a limpeza
Depois que a feira termina

8) ROQUE NUNES

E o dono da miudeza
Já tendo fechado a mala
Escuta o rapaz que fala
Do outro lado da mesa:
– Meu senhor, por gentileza,
O senhor tem brilhantina?
Ele diz com voz ferina:
– Aqui na mala ainda tem
Mas eu não vendo a ninguém
Depois que a feira termina

9) LUIZ BERTO

Um jumento estropiado,
Magro que só a desgraça,
Quando vê que a feira passa
Vai pra frente do mercado
O endereço ao danado
Eu não sei quem diabo ensina
Eu só sei que baixa a crina
Entre as cinco e as cinco e meia
Lancha, almoça, janta e ceia
Depois que a feira termina.

Mas, entre rimas e métricas, salvaram-se todos, tudo correu bem, e eu fiz questão de transcrever o poema por inteiro para que quem não conhece e não teve a oportunidade ainda, agora a está tendo, porque, realmente, é mais um dos imperdíveis poemas desse artista ímpar.

7 pensou em “GOIANO BRAGA HORTA – PETRÓPOLIS-RJ

  1. A minha declamação
    Papa Berto foi quem fez
    E eu perdi minha vez
    Mas não tem reclamação.
    Eu fiquei com a emoção
    De ouvir Dedé Monteiro
    De quem sou fã, o primeiro!
    Esse patrimônio humano
    Não é só pernambucano
    Mas do povo brasileiro.

    Dedé é gênio da raça!

  2. Hehehe, meu caro Maurino, coloquei aí que foram mais de quarenta que participaram e foram mesmo: houve um momento em que havia 40 conectados quando já tinha saído gente no entra e sai que acontece.
    Qiuanto àqueles números loucos, vou ter de deixar de apresentá-los, porque estão ficando estrastoféricos. Se fosse continuar inventando, teria de assinalar uns doze milhões assistindo Dedé Monteiro ontem, ou seja, eu tinha de esytar contando gente até a semana que vem rsrsrs

  3. Obrigado, Adônis. Aqui não faltou. Abri um Portil de Lobos. Tinto. Espanhol. Comprei baratinho na promo, mas quebrou bem o galho, depois de refrescado na frigidaire. Tá difícil de tomar vinho europeu, qualquer J.P. Chenet estão cobrando 80 a 100 reais aqui. Na França é vinho de três euros e centavos…
    Abração.

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