Quando canto, vejo a negra
Claridade do luar
Vendo a flor colhendo beijos
Dos lábios frios do ar
E a praia enfeitando os fios
Do lençol verde do mar.
Ivanildo Vila Nova
O céu possui nuvem fria;
A terra, montanha e serra;
Dorme a terra, acorda o céu;
Dorme o céu, acorda a terra;
Os dois nunca se uniram,
Mas também não vivem em guerra.
Raimundo Nonato da Costa
Do nevoeiro pra o chão
A nuvem faz passarela;
O sapo pinota n’água,
Entra na lama e se mela;
Faz uma cama de espuma
Pra cantar em cima dela.
João Paraibano (1952-2014)
Quando o dia vai embora
A tarde é quem sente a queixa;
O portão da noite abre;
A porta do dia fecha;
A boca da noite engole
Os restos que o dia deixa.
Onildo Barbosa
No final da tardezinha
Depois que o sol vai embora
A mata fica em silêncio
Calando a fauna e a flora
Velando o corpo da noite
Até o nascer da aurora.
Rubens do Valle
A natureza é um tema constante dos cantadores de viola. A seleção de estrofes sobre a matéria está extraordinária. A sextilha de João Paraibano é a minha favorita e faço questão de reproduzir os versos: Do nevoeiro pra o chão/A nuvem faz passarela;/O sapo pinota n’água,/Entra na lama e se mela;/Faz uma cama de espuma/Pra cantar em cima dela.
João Paraibano (1952 – 2014) nasceu em Princesa Isabel, na Paraíba, mas, desde os anos 70 residiu em Afogados da Ingazeira, Sertão do Pajeu de Pernambuco. Considerado por muitos apologistas e admiradores da cantoria de viola, como um dos maiores repentistas, e que, a sua grandeza fica ainda maior quando o tema refere-se ao Sertão. Envio uma estrofe desse genial João Paraibano para o prezado amigo:
Vi o fantasma da seca
Transportado numa rede
Vi o açude secando
Com três rachões na parede
E as abelhas no velório
Da flor que morreu de sede.
Saudações fraternas,
Aristeu
Parece fácil associar uma bela paisagem, com árvores floridas e cachoeiras, a momentos de prazer. Estar em contato com a natureza transmite uma sensação de calma e tranquilidade e faz bem para a mente. Quem melhor descreve a natureza são os repentistas, pois convivem com ela desde crianças nas pequenas cidades do interior nordestino. Foi um prazer ler a coletânea de versos selecionadas nesse artigo. Faço distinção aos versos de Ivanildo Vila Nova: Quando canto, vejo a negra/Claridade do luar/Vendo a flor colhendo beijos/Dos lábios frios do ar/E a praia enfeitando os fios/Do lençol verde do mar.
Nascido em Caruaru/PE, em 13 de outubro de 1945, Ivanildo Vila Nova cresceu acompanhando seu pai, o famoso cantador José Faustino Vila Nova, pelas noitadas de cantorias de viola. Se a vida do repentista naquela época era extremamente espinhosa, para um jovem, então, o sacrifício era extremo.
Ao abraçar a arte de Improvisar, Ivanildo não queria apenas ser mais um no cenário da poesia. Era imperioso que o quadro existente fosse modificado para a sobrevivência do admirável mundo do repente. Antes de Ivanildo Vila Nova, a Cantoria era amadora, onde o compromisso era apenas com o divertimento, o lúdico, a boemia. Com ele, aconteceu a profissionalização, a elevação do cantador à categoria de artista.
Usufruo desse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana para enviar uma sextilha de Ivanildo Vila Nova ao prezado amigo:
Eu vejo tanta beleza
Num pássaro tão pequenino
Vai ao mato corta talo
Abre o bico canta um hino
Penera as asas e voa
Deus é quem marca o destino.
Saudações fraternas,
Aristeu
Belíssima postagem, prezado Aristeu, ,”A NATUREZA NOS VERSOS DOS REPENTISTAS”.
Sua coluna, como sempre, está maravilhosa! Parabéns!
A seleção de poetas está excelente e não se sabe quais os versos melhores entre todos.
Mesmo assim, me toquei com os versos do repentista Ivanildo Vila Nova:
Quando canto, vejo a negra
Claridade do luar
Vendo a flor colhendo beijos
Dos lábios frios do ar
E a praia enfeitando os fios
Do lençol verde do mar.
Ivanildo Vila Nova
Uma excelente semana, com muita saúde, alegria e Paz!
Violante,
O seu comentário com observações interessantes sempre estimula meu prazeroso trabalho de pesquisar a cultura popular. A estrofe escolhida por você demonstra o conhecimento sobre o admirável universo do repente. Aproveito para fazer uma minibiografia de Ivanildo Vila Nova.
Um dos maiores nomes da cantoria e do repente da atualidade, Ivanildo Vila Nova nasceu em Caruaru, em 13 de outubro de 1945. Desde criança aprendeu a gostar de viola com o pai, o também repentista José Faustino Vila Nova. Com 12 anos, já o acompanhava em cantorias e dividia as apresentações entre o estudo e trabalhos no comércio. Mas, ao completar 18 anos, Ivanildo decidiu que disseminar a poesia pelo mundo seria o mote da jornada dele.
Certa vez, deram o seguinte mote a Ivanildo Vila Nova:
Senti menos o peso do pecado,
Quando fiz a primeira comunhão,
Os versos sairam com a velocidade, reflexão e conhecimento de quem domina a arte do repente;
Na Igreja que é casa que ampara
Eu entrei furioso como um potro,
Ao sair da Igreja eu era outro
Diferente daquele que entrara,
E o vigário também em mim notara
Que eu sofrera a maior transformação
Eu entrara pra li como um leão,
Mais saira dali domesticado,
Senti menos o peso do pecado,
Quando fiz a primeira comunhão,
Desejo uma semana plena de paz, saúde e felicidade
Aristeu Bezerra
Obrigada, Aristeu, por me brindar com uma minibiografia do grande poeta Ivanildo Vila Nova,
“um dos maiores nomes da cantoria e do repente da atualidade.”
Estou encantada com a trajetória de vida que ele vem trilhando desde os 12 anos de idade, quando
já acompanhava o pai (o também repentista José Faustino Vila Nova), em cantorias e dividia as apresentações entre o estudo e trabalhos no comércio.
“Mas, ao completar 18 anos, Ivanildo decidiu que disseminar a poesia pelo mundo seria o mote da jornada dele.”
Ele fez muito bem em preferir exercer o dom que Deus lhe deu.
O poeta já nasce feito. E não se ensina poesia no colégio, como estão querendo agora.
Gostei imensamente dos versos que ele escreveu sobre a Primeira Comunhão, cujo Mote diz:
“:Senti menos o peso do pecado,
Quando fiz a primeira comunhão,”
Uma semana plena de paz, saúde e felicidade para você também!