JESSIER QUIRINO - DE CUMPADE PRA CUMPADE

Um comentário em “CONVERSA DE MANICURE

  1. Nesse sertão de vaqueiro, chapéu de couro e gibão
    Uma tá de manicure, ou pintadeira de mão
    Cum seu trabaio pustiço
    Deu o maior rebuliço
    Nas matuta do sertão.

    Esse salão de beleza
    Incaicô cum liberdade
    O butão da safadeza
    Junto cum o da vaidade…

    Gente de cabelo duro
    Saiu feito poico ispim
    Mulé do cabelo bom
    Saiu cum o cabelo rim.

    Vi nega de capacete
    Cum os dedos dento dum môi
    Vi pintamento de beiço
    De cabelo e até de oio.

    Guaribação de bochecha
    Pra limpar cara de jaca
    Aparamento de unha
    Tiramento de inhaca
    Baibeadô de suvaco
    Vi tapadô de buraco
    Disfaçadô de ressaca.

    Vaqueiro fazendo unha
    Foi minha grande surpresa!
    Sentou-se no mei das feme
    Deixou de lado a macheza.

    Viúva do mermo dia
    Se alegrou da tristeza
    E pra fugir do enpêrro
    Logo depois do enterro
    Foi pro salão de beleza.

    A fama da manicure
    Desceu de sertão a fora
    Matuta que conhecia
    Só brilhantina glostora
    Pintou-se que nem paiaço
    E pra quem era um bagaço
    Inté que teve uma miora.

    Mais o que mais atraia
    As damas pra maquilagem
    Era a mitida de pau
    No mundo da fofocagem.

    A manicure seu moço
    Paricia uma navaia
    Cortou do alto sertão
    Inté a beira da praia
    Botou defeito nos santo
    Matou Neném de quebranto
    Jogou freguês na gandaia.

    Na base da fofocagem
    Lucrava com garantia
    O salão era pequeno
    Pra festa da freguesia
    Quando o trabai começava
    A freguesia escutava
    E a manicure dizia:

    Gerome de Zé Lotero
    Aquilo é que ser safado
    Além de falso e xexeiro
    É mentiroso e tarado
    E pelo que me dissero
    Sendo fi de Zé Lotero
    Tem tudo pra ser viado!?

    Guilora de Ataíde
    Tão engraçada que era
    Hoje depois de parida
    Virou uma besta-fera
    Também o cão do marido
    É mago, fei e cumprido
    Que nem a rosa pantera.?

    O finado Rubiná
    Que Deus tape as suas oiça
    Armuçava nas panelas
    Mode não sujá as loiça
    Ah! sujeitim miserave,
    Fuxiqueiro e imprestave
    Pro ele não ha quem toiça.?

    O seu Manel Hostaliço
    Todo metido a ricão
    Passou a vida porpando
    Mode comprar uma mansão
    Hoje vei, chei de dinheiro
    Tem uma casa cum dez banheiro
    E o peste mija no chão.?

    Aquela Li varredeira
    Só veve de fuxicar
    Dá conta da vida aléia
    De tudo quanto é lugar
    Em casa farta cumida
    Tem quatro pia intupida
    Três redes pra custurar!?

    A fia de Zé Botinha
    Oi! Eu não gosto de falá
    Mas pra mim ela é chifreira
    E ninguém pode negá
    Casou-se com Chico Bento
    Mas já saiu cum o sargento
    E quatorze oficiá.?

    Minha cumade Honorina
    Já que os freguês foro embora
    Já qui nós tamo sozinha
    Vou lhe contá uma estora
    Sei que vós não advinha.

    Esse magote de feme
    Que saiu quage agora
    São tudo quenga, chifreira,
    Veaca e caipora
    De todas aqui presente
    As única mulé decente
    Só era eu e a senhora.

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