DEU NO X

DEU NO X

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

MIRTES LUCENA – CARUARU-PE

Prezado Editor:

Esta foto mostra a multidão que foi receber o nosso presidente Jair Bolsonaro hoje em Santa Cruz do Capibaribe.

Ele saiu de lá e veio até nossa querida Caruaru numa motociata gigantesca.

Nunca antes neste país!!!

Um dia maravilhoso em Pernambuco.

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

A TARDE – Leandro Gomes de Barros

Tomba a tarde, o sol baixa seus ardores,
Alvas nuvens no céu formam lavores
E a voz da passarada o campo enchendo:
A juriti em seu ramo de dormida
Soltando um canto ali por despedida,
Dando adeus ao sol que vai morrendo.

E mergulha o sol pelo ocaso,
Já o dia ali venceu o prazo,
Abrem flores, o orvalho em gotas vem;
Limpa o céu, o firmamento se ilumina,
Uma luz alvacenta e argentina
Já se avista no céu, mas muito além.

Regressam do campo lavradores,
Apascentam os rebanhos os pastores,
E o mundo fica ali em calmaria;
A matrona embala o filho pequenino
E prestando atenção à voz do sino
Quando dobra no templo a Ave-Maria.

Vem a noite, dormem ali as cousas mansas,
Dormem qu’etos os justos e as crianças,
E a Virgem envia preces à divindade;
A velhice recorda arrependida
Todo erro que fez em sua vida
E murmura: Quem me dera a mocidade.

Leandro Gomes de Barros, Pombal-PB (1865-1918)

DEU NO X

A PALAVRA DO EDITOR

CHUPICLEIDE SOLTA NO MEIO DO MUNDO

Ontem, sexta-feira, Chupicleide assinou o vale habitual de final de semana.

Aproveitando-se das generosas doações feitas nos últimos dias pelos leitores fubânicos Amaury C. Mello, Aurea Regina, Arael Costa, L.R.M e Fábio Menezes, ela me pediu um bom adiantamento já do salário de setembro.

Ô sujeita avexadinha que só a peste.

Mas ela pegou o dinheiro num foi pra encher o rabo de cachaça no Bar da Tripa, bairro do Totó, em Jaboatão dos Guararapes, que fica aqui na Grande Recife.

Ela viajou hoje pela manhã pra cidade pernambucana de Santa Cruz do Capibaribe, pra encontrar-se com um macho que arrumou naquelas bandas.

O cabra é motoqueiro e,  escanchada na garupa da moto, Chupicleide vai sair de Santa Cruz com destino a Caruaru, a grande cidade pernambucana que será visitada hoje por Bolsonaro.

Vai ser uma motociata da porra, juntando a mundiça barulhenta do agreste pernambucano.

Chupicleide já saiu toda vestida de verde-amarelo e carregando uma bandeira do Brasil.

Agora há pouco ela me mandou notícias de lá, toda feliz e se rindo-se.

É hoje que o pau (êpa) vai entrar. Foi essa a expressão que ela usou.

Pra variar, gente que só a peste pra saudar o homi.

Ô povo pra gostar de aglomeração!

* * *

CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

A CHACINA NA IGREJA NOSSA SENHORA MÃE DO POVO

Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo

Ya-Rá-Guá (enseada do ancoradouro) é o nome indígena originário do bairro de Jaraguá, o Marco Zero, onde começou a cidade de Maceió. Quando o mundo entrou na era da industrialização, navios de toda parte fundeavam no ancoradouro natural na enseada de Jaraguá. Naquela época o bairro teve um enorme desenvolvimento urbano e econômico devido ao efervescente comércio. Jaraguá vivia na euforia de muitos negócios, exportação de açúcar, algodão, e importação de materiais industrializados para o consumo da população. O ancoradouro natural tinha uma ponte de desembarque e Jaraguá tornou-se um dos portos mais movimentados do Brasil.

Em torno da Praça Dois Leões, onde se encontra a Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo, moravam estivadores, embarcadiços, pescadores, homens que tinham o mar como sustento.

Os vizinhos se conheciam, havia casamento entre eles, era como fosse uma família. Augusta era uma menina sapeca, corria pelos sítios perto do Riacho Salgadinho, corria na praia, subia nas amendoeiras da Avenida da Paz, a todos encantava. Ao completar dezesseis anos era a moça mais bonita das redondezas, chamava atenção sua beleza e sensualidade. Todos queriam namorar Guta, mas, ela só se agradava de Gumercindo, jovem espadaúdo, tomou corpo de homem aos dezenove anos, corpo forjado carregando sacos de açúcar na ponte de desembarque; depois se tornou embarcadiço. Os pais de Augusta permitiram o namoro. Era do gosto das famílias.

Certa tarde de domingo, uma pequena patrulha da Força Policial, comandada pelo Cabo Sobral, fazia ronda na Praça Dois Leões, quando o cabo avistou a moça de roupa domingueira; encantou-se, ficou deslumbrado com Augusta. Todo domingo o cabo passou a admirar a jovem em direção à missa na Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo. Certo dia ele se apresentou e falou com o pai da moça. Não se conformou em saber que a bela Augusta estava comprometida com um embarcadiço. Não admitiu a negativa. Ele cabo da Força Policial, autoridade, de tradicional família.

No dia 10 de janeiro havia a festa de Bom Jesus dos Navegantes. As embarcações singravam na enseada da praia da Avenida da Paz em Jaraguá. Os barcos enfeitados competiam na ornamentação, muitos fogos, muita alegria. À noite a festa se prolongava na Praça Dois Leões. Colocavam tendas para leilões, bingos, tablados onde se dançava com a música de um conjunto. Improvisavam bares servindo cachaça e tira-gosto para animar a moçada.

Nas casas eram organizadas festas particulares frequentadas pelos vizinhos e convidados Os amigos lotaram a casa de Augusto, pai da aniversariante, Augusta, a moça mais bonita da cidade, celebrava seus dezessete anos.

O Cabo Sobral, ao longe, assistia a animação na casa de Augusto, para onde não foi convidado. Deu-lhe um despeito quando olhou pela janela Gumercindo dançando coco de roda com a amada Augusta na maior felicidade. O Cabo, bêbado, tentou entrar na casa de Augusto, foi barrado na porta por Simplício, irmão do dono da casa. O cabo quis alterar, apareceram alguns estivadores, ele recuou. Depois de certo tempo, o Cabo Sobral, policial arruaceiro, retornou com mais três policiais. Foram rechaçados e iniciaram uma briga, murros e pontapés, deu-se uma briga generalizada. Uma facada deixou um policial morto estirado na rua.

Cabo Sobral e seus homens bateram retirada ao quartel. Reuniu os soldados que se encontravam no momento. Fez um discurso emocionante, incitando vingar o companheiro assassinado pelos estivadores. Armou mais de 20 soldados, montaram a cavalos, dispararam em direção à Praça Dois Leões. Entraram galopando na praça, atirando em quem estivesse pela frente. Ao moradores pularam muro da casa, fugiram da sanha dos policiais.

Na casa de Augusto correram pelo estreito portão do fundo do quintal. Dois músicos guardavam seus instrumentos, foram feridos pelas balas dos policiais. Na praça, os ambulantes, que nada tinham a ver com a história, correram para o interior da Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo. Os soldados do Cabo Sobral entraram na igreja, a cavalo, atirando indiscriminadamente.

No dia seguinte o governador soube da chacina, estava escandalizado, entretanto, permitiu que os cadáveres, mais de 20, fossem ajuntados em uma carroça de bonde, e enterrados numa vala comum no cemitério de Jaraguá.

O massacre foi abafado pela imprensa. Nenhuma notícia foi publicada em jornais, não houve um registro sobre a ocorrência. Até a Igreja foi conivente abafando o caso e determinou a interdição do templo católico. A Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo da freguesia de Jaraguá ficou fechada por mais de quinze anos. Mas o povo, os moradores do bairro de Jaraguá não esqueceram. Ainda hoje, por tradição oral, os netos e bisnetos de Gumercindo e Augusta contam a história do insano massacre da Igreja Nossa Senhora Mão do Povo no bairro histórico de Jaraguá. Acontecido há muitos anos.

SEVERINO SOUTO - SE SOU SERTÃO

DEU NO JORNAL

ALEXANDRE GARCIA

DIA DA INDEPENDÊNCIA

Já assisti a quatro 14 Julliet – a Data Nacional da França – em Paris. Assisti ao 4 de Julho em Boston, onde começou a independência dos Estados Unidos. São festas cívicas, comemorando a Pátria. Aqui no Brasil, a data nacional em geral se resume a uma parada militar. Repetindo o ano passado, neste ano não haverá parada, por causa das restrições da pandemia. Mas, pelas expectativas e pelo fato de estar toda a mídia falando, tudo indica que na próxima terça-feira vai acontecer um Sete de Setembro com um público como nunca se viu – mesmo sem parada.

São Paulo é o lugar que mais chama a atenção. Apoiadores do presidente e contrários ao presidente farão seu balanço de gente na rua, na Avenida Paulista uns e no Anhangabaú outros. As capitais, que têm mais exposição, vão atrair manifestantes de cidades do interior. Há gente de um novo “fique em casa”, que teme confrontos, o que equivale a temer manifestações e a temer o contraditório – que são tão saudáveis à democracia. Manifestações democráticas são aquelas que aceitam a diversidade de pensamento. Óbvio que fogo, destruição, paus e pedras, agressões, nada tem a ver com democracia, mas com violência, fanatismo e brutalidade.

Que não se resuma o Sete de Setembro em um fora Supremo x fora Bolsonaro. As liberdades estão sendo feridas pouco a pouco, como sempre aconteceu no avanço do totalitarismo. E liberdade, imagino que ninguém é contra. A liberdade de expressão tem sido atingida, embora garantida pela Constituição. A pandemia foi pretexto para muito avanço sobre as liberdades e é significativo que se vá pedir respeito às liberdades na comemoração do dia em que o príncipe Pedro gritou Independência!, provocando a libertação de Portugal. Imitando a voz do príncipe, talvez seja a hora de romper o silêncio sobre as exceções frequentes no cumprimento da Constituição.

Faltam apenas três dias, mas o encontro nas ruas tem recebido cada vez mais atenção da chamada opinião pública. Os estrategistas políticos já devem estar considerando este Sete de Setembro um marcador. Será um divisor-de-águas, mudando um antes num depois? Como todo poder emana do povo, as ruas poderão ter um poder dissuasório mais que todos os canhões, tanques e soldados que desfilariam nas paradas canceladas.