J.R. GUZZO

SAINDO DO DESERTO

Ninguém diria nada de parecido há pouco mais de um ano, mas este foi um ano em que nada se pareceu com nada – é natural, assim, constatar que a evolução da economia e do bem-estar da população brasileira passou a depender diretamente não daquelas coisas que os economistas vivem dizendo que são importantes, e sim de uma fórmula química. Quem poderia imaginar? Mas aí está: ao chegar-se à metade de 2021, é o sucesso maior ou menor da vacinação que vai dizer, sim ou não, se haverá crescimento daqui para a frente – e em que ritmo. É isso que vai decidir se as pessoas terão de volta os empregos que perderam ou que não conseguiram encontrar nos últimos 12 meses, e se haverá outra vez investimento, oportunidades, novos negócios e tudo aquilo que serve de motor para o sistema de produção das sociedades.

Na passagem de 2019 para 2020 não havia ninguém pensando nisso, nem na área econômica ou em qualquer outra área. Vacina? Vacina para quê? Não havia a doença. Não havia a proibição para a indústria funcionar, o comércio abrir e os serviços serem prestados. Não havia 3,5 milhões de mortos através do mundo, nem a ideia de que fosse preciso, dali para diante, arrumar vacinas – e muitas vezes em dose dupla – para 8 bilhões de consumidores. Os problemas da economia eram outros.

O Brasil, por exemplo, ia mal, com investimento em queda, desestímulo maciço à atividade produtiva, fuga de multinacionais cujos acionistas se cansaram de perder dinheiro aqui, desencanto com uma economia estatizada, burocracia demente, impostos suicidas, baixa estabilidade jurídica, uma máquina pública hostil ao lucro. A lista vai adiante; levaria horas para chegar ao fim. Um ano depois, tudo isso continua basicamente do jeito que estava. Mas, agora, por conta da destruição econômica trazida pelo conjunto de decisões envolvendo a covid, qualquer luz no fim do túnel virou um sol de meio-dia. Se parar de piorar, apenas isso, vai ser uma vitória gigante – e é a vacinação, mais que qualquer outra coisa, que realmente está fazendo aparecer a luz. Só ela, na prática, tem a capacidade de parar a desgraça.

Quanto mais pessoas forem vacinadas, e quanto mais rápida for a conclusão desse processo todo, mais rapidamente o Brasil sairá do deserto econômico em que foi lançado. O que isso tem a ver com a política econômica “A” ou com a política econômica “B”, que são contrárias entre si e, portanto, deveriam levar a resultados opostos? Nada. O fato decisivo para a economia, hoje, passou a ser uma questão de farmácia. Concluída a vacinação, é certo que os países que têm espaço para crescer vão realmente crescer – não se sabe quanto, mas não vai ser pouco, e nem pode ser evitado. É o caso do Brasil.

* * *

Uma das principais vantagens do ex-presidente Lula na vida política é a falta de memória do público e a mansidão dos adversários a quem ofende. Durante anos a fio Lula acusou Fernando Henrique, aos gritos e pelo mundo inteiro, de ter lhe deixado uma “herança maldita” no governo – insulto agravado pelo fato de ser uma mentira em estado puro. Até pouco tempo atrás tratava FHC como uma das maiores, ou a maior, desgraça que o Brasil já teve; era o grande satanás da “direita”, das “elites”, etc., etc. Agora, candidato para governar o País pela terceira vez, Lula vira amigo de infância de quem acusava, cinco minutos atrás, de ser o retrato acabado do mal – e o inimigo engole tudo sem dar um pio.

Lula nunca retirou o que disse sobre a herança maldita. Nunca, aliás, disse uma palavra positiva sobre Fernando Henrique, ou sobre nada do que ele fez. Que raios, então, estão fazendo juntos?

DEU NO X

CAMBADA DE IRRESPONSÁVEIS: CARIOCA NÃO TEM JUÍZO

DEU NO X

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

PASSEANDO PELAS ARTES

Garrincha passa e o marcador fica no chão

Hoje peço licença aos amigos leitores, para falar um pouco do futebol, meio no qual dormi e acordei por alguns anos.

Sou torcer alvinegro, com ênfase para Ceará Sporting Club, Botafogo de Futebol e Regatas e Santos Futebol Clube. Na primeira preferência, por ser o clube da minha terra natal; na segunda, por conta desse ser humano genial, cuja alegria inocente era levar alegria para todos; e, finalmente, no terceiro, por conta da genialidade do negão que vestiu e honrou a camisa 10, fazendo dela, mundo à fora, um ícone da excelência.

1 – MAMÉ GARRINCHA

“Manoel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha ou simplesmente Garrincha foi um futebolista brasileiro que se notabilizou por seus dribles desconcertantes, sendo considerado por muitos o mais célebre ponta-direita e o melhor driblador da história do futebol.” (Wikipédia)

Longe de mim a pretensão de querer contar a história de Garrincha, uma figura demasiadamente conhecida, não apenas nos meios futebolísticos, ou, por conta de algumas peripécias na vida particular – e isso não me diz respeito.

Dito isso, muitos, mas nem todos sabem, que Garrincha nasceu Manoel Francisco dos Santos, no povoado Pau Grande, em Magé, no Estado do Rio de Janeiro, a 28 de outubro de 1933. Foi ali que Ele ensaiou e desenvolveu os primeiros dribles, construiu as primeiras gaiolas e criou os adorados passarinhos.

Há pouco para se dizer ainda sobre Garrincha. Muitos já disseram tudo, graças à adoração que o também botafoguense Sandro Moreyra tinha pelo genial jogador. Mané era assunto preferido de Sandro, mesmo quando o Botafogo não jogava.

O que já se sabe era que, quando jogava o Botafogo de Garrincha contra o Flamengo de Jordan ou o Vasco de Coronel, os torcedores dos clubes, adversários em campo, se deliciavam pelos momentos chaplinianos que “Mané” proporcionava. Era uma delícia, e há quem afirme que, até o marcador se sentia feliz em viver o seu dia de “João”, como passou a ser rotulado o pretenso marcador que tomava baile.

Até onde se sabe, pelo que muitos disseram, uma vida desregrada após a aposentadoria no futebol, foi a causa principal que levou Mané Garrincha à morada eterna, no dia 20 de janeiro de 1983 – dia consagrado à São Sebastião, no Rio de Janeiro.

Pau Grande – bucólico povoado onde nasceu Garrincha

Sobre Garrincha, além de ter presenciado em inúmeras oportunidades nas arquibancadas do Maracanã aquele drible seco sempre para o lado direito depois de um “faz-que-vai-mas-não-vai” para a esquerda, um momento triste que presenciei sobre uma figura tão importante no Brasil e mundo à fora.

Toda manhã de domingo, eu ainda morador do Rio de Janeiro, cultivava o hábito de comprar vários jornais (O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, Folha de São Paulo, Jornal dos Sports, Gazeta Esportiva, Correio Braziliense, Diário do Nordeste e O Povo), numa banca de jornaleiro que existe ainda hoje, na frente do antigo Hotel Serrador, na Cinelândia. Comprava e lia todos. Levava uma ou até duas sacolas de jornais para ler em casa.

Eis que, ao pagar e receber os jornais, caminhei na direção da antiga Mesbla. Foi quando encontrei, sentado no meio-fio da Rua Senador Dantas, todo vestido de preto (como se estivesse usando luto), a figura inconfundível de um dos maiores jogadores de futebol do mundo: Mané Garrincha.

Percebi que ele estava insone e, aparentemente, alcoolizado. Não tentei ajuda-lo, pois tive receio de ser confundido. Segui meu caminho, enquanto ele ficara sentado no mesmo lugar. Provavelmente escutando os aplausos recebidos tantas vezes das arquibancadas do Maracanã. Aplausos vindos até dos torcedores de times adversários.

2 – CHARLES CHAPLIN

Outros tempos, outros pais e outras mentalidades. Quem estudava tinha apenas um dia para o descanso ou lazer: o domingo. Domingo era dia de cinema ou futebol para a estudantada, ou, ainda, para a juventude transviada o dia para descansar da ressaca do sábado. Diferente de hoje, que a farra começa na sexta-feira. Vida que segue.

E a estudantada sempre (ou quase sempre) ia ao cinema. Trocar revistas em quadrinhos ou figurinhas de álbuns, e depois o filme em cartaz.

Final dos anos 40 e quase todos os anos 50, a produção cinematográfica era limitada. Perdurava ainda o filme mudo (sem som audível) e muitos desenhos, rotulados de “animados”. Filmes de faroeste ainda eram raros – e havia até quem imaginasse que, a poeira feita pelas carruagens perseguidas pelos índios, pudesse provocar gripes. Arre égua!

Chaplin – o mito da então arte cinematográfica “muda”

Difícil mesmo era esquecer que, o grande nome dos filmes daqueles poéticos tempos era Charles Chaplin. Na verdade, Charles Spencer Chaplin, percussor do cinema mudo, nascido no Reino Unido, mais precisamente no povoado Walworth, dependente de Londres, a 16 de abril de 1889.

Charles Chaplin, que viria a falecer em Manoir de Ban, na Suíça, no dia 25 de dezembro de 1977, em vez de receber presentes de Natal, fez foi presentear a criançada e o cinéfilo com fitas inesquecíveis como O Grande Ditador, O Garoto, O Vagabundo e o impagável Tempos Modernos.

Lembro que vi todos esses filmes, como lembro também, da magistral interpretação de Geraldine Chaplin como “Tônia” no filme “Dr. Jivago” ao lado de Omar Shariff e Julie Christie. Geraldine sempre recebeu cobranças por melhores interpretações, apenas pelo fato de ser filha de Chaplin.

Cemitério onde estão os restos mortais de Chaplin e da família

Tudo momentos proporcionados pela arte. Quando Garrincha driblava, a ponto de destruir o marcador, provocando risos e/ou aplausos das superlotadas arquibancadas do Maracanã, era a arte se impondo de forma magnífica no futebol.

Não seria diferente, quando as plateias uníssonas gargalhavam como os trejeitos de Chaplin em quase todos os seus filmes. Mas, entre tantos, havia também aqueles que iam às lágrimas. Tudo, arte pura.

DEU NO X

A PALAVRA DO EDITOR

DOMINGO BONITO

Hoje amanheceu um dia bonito e ensolarado aqui no Recife.

Tá um domingo belíssimo!

Chupicleide já me avisou que vai encher a cara no Bar da Tripa, localizado no bairro do Totó, em Jaboatão.

É lá que ela vai assistir hoje de tarde à final do campeonato pernambucano, a decisão entre Náutico e Sport, embora não torça por time algum.

Ela vai só pra ficar se inxirindo com o monte de machos que  estará por lá.

Nossa secretária de redação amanheceu o dia relinchando de felicidade com as doações feitas pelos leitores Ellen Maria, Pedro Dantas e Esdras Serrano, e já assinou um vale com adiantamento de salário.

Gratíssimo a todos vocês que colaboram para cobrirmos a despesa mensal de hospedagem e assistência técnica desta gazeta escrota, a cargo da empresa Bartolomeu Silva.

Vai voltar tudo em dobro pra vocês na forma de paz, saúde, felicidade e muita alegria!

“Obrigada, queridos amigos fubânicos. Vocês são uns amores!!! Um beijão!!!”

DEU NO JORNAL

DEU NO X

DEU NO JORNAL

GRANDE CONSTRANGIMENTO PARA UM HOMEM HONRADO

O cunhado de Gilmar Mendes, Valdemir Feitosa, foi preso neste sábado, 22, em uma boca de fumo, na capital cearense Fortaleza.

Valdemir é irmão da esposa de Gilmar Mendes, a senhora Guiomar Feitosa Lima Mendes.

No apartamento de Feitosa foi encontrado um verdadeiro arsenal que incluía fuzis, pistolas, revólveres e espingardas, além de muita munição.

* * *

Coitado do Gilmar…

Confesso a vocês que fiquei com pena do ministro e lamentei muito esta espantosa notícia envolvendo o seu cunhado.

Um cidadão de bem do porte do Gilmar, inimigo radical do crime, da corrupção e da bandidagem, não merece passar por um constrangimento deste porte.

Ao mesmo tempo que é ferrenho inimigo da marginalidade, o Ministro Gilmar Mendes é um ardoroso defensor dos cidadãos de bem: mês passado ele afirmou que Lula deveria ser indenizado por ter ficado 580 dias preso.

Isto dá uma exata medida da justeza do seu pensamento de magistrado.

Tenho certeza que ele não vai interferir no caso e que o irmão de sua esposa será rigorosamente punido.

Confesso que estou sofrendo muito com esta situação horrível: um traficante da pesado dentro da família de um homem de bem e muito honrado.

Coisa absurda!!!

“É por isso que leio o JBF todos os dias. Só diz a verdade. O melhor jornal do Brasil”

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Farias Brito

Raimundo de Farias Brito nasceu em São Benedito, CE, em 24/7/1862. Escritor, professor e destacado filósofo. Autor de uma das maiores obras filosóficas produzidas no Brasil. Realizou os primeiros estudos em Sobral. Porém, devido a seca, a família teve que mudar-se para Fortaleza, onde concluiu o curso secundário no Liceu do Ceará. Em seguida foi estudar no Recife, na Faculdade de Direito, tendo Tobias Barreto como professor. Diplomado em 1884, foi trabalhar como promotor e, por duas vezes, secretário no governo do Ceará.

Em 1889, mudou-se para Belém do Pará e lecionou na Faculdade de Direito até 1909, além de exercer a advocacia. Em seguida foi morar no Rio de Janeiro e passou a ocupar a cátedra de lógica no Colégio Pedro II. Na época, o Presidente da República escolhia o catedrático entre os dois primeiros colocados no concurso. O segundo colocado foi Euclides da Cunha, e foi nomeado devido a influência de amigos. Mas pouco depois foi assassinado, e Farias Brito assumiu o cargo, vindo a exercer o magistério pelo resto da vida. Faleceu em 16/1/1917.

Dotado de um espírito investigador e meditativo, tornou-se filósofo e espiritualista. Conforme Laudelino Freire “Nele, como em Platão havia duas feições primordiais: a investigação dos fenômenos do espírito e a inquirição das leis morais. Era o moralista antes de ser psicólogo, ou psicólogo para ser moralista”. Seu pensamento poderia ser resumido no seguinte: “Há pois a luz. Há a natureza e há a consciência. A natureza é Deus representando, a luz é Deus em sua essência e a consciência é Deus percebido”. Como se vê, ele inicia tendo Deus como um princípio que explica a natureza e serve de base ao mecanismo da ordem moral na sociedade. Costumava dizer “Se não sei o que sou, nem para que vim ao mundo, não posso saber uma norma de conduta.” Sua filosofia tinha como objetivo uma norma moral.

Foi o primeiro e, segundo alguns autores, talvez ainda hoje o único filósofo original do Brasil. Encarava seu estudo como uma missão social e costumava dizer: “Não me dirijo aos sábios, orgulhosos de seu saber positivo, mas aos que precisam de um ideal para a vida” Sua obra é composta de duas trilogias: Finalidade do mundo: A filosofia como atividade permanente do espírito humano (1895), A filosofia moderna (1899) e Evolução e relatividade (1905). Ensaios sobre a Filosofia do Espírito: A verdade como regra das ações (1905), A base física do espírito (1912) e O mundo interior (1914). Para ele, a filosofia não é apenas conhecimento abstrato; é também força social, força viva, capaz de exercer influência sobre a sociedade. E tal influência é real e decisiva, pois é da filosofia que nasce o sentimento moral. Faleceu em 16/1/1917, quando o estudo da fiolosofia ainda engatinhava no Brasil.

Para homenageá-lo, em 1953, o município de Quixará passou a ser denominado Farias Brito. Em Fortaleza, o tradicional Colégio São João passou a denominar-se Colégio Farias Brito, na década de 1990. Hoje é a Organização Educacional Farias Brito de Ensino, uma grande rede de ensino particular, atuando nos ensinos fundamental, médio e superior e, seguindo os ideais de seu patrono, ensina filosofia a partir da 1ª série do ensino fundamental, quando seus alunos aprendem filosofia antes mesmo de aprenderem a ler. É o patrono da cadeira nº 31 da Academia Cearense de Letras e foi, também, maçom filiado a Loja Porangaba, fundadora da Grande Loja Maçônica do Ceará.

Sua e obra e doutrina filosófica foi estudada por diversos autores: A formação filósofica de Farias Brito, de Laerte Ramos de Carvalho (Saraiva,1977); A metafísica de Farias Brito, de Vitorino Félix Sanson (Edcus, 1984); Farias Brito ou uma aventura do espírito, de Sylvio Rabello (José Olympio, 1941); Farias Brito e as origens do existencialismo no Brasil, de Aquiles Côrtes Guimarães (Tempo Brasileiro, 1979); As doutrinas políticas de Farias Brito, de Francisco Elias de Tejada (Leia, 1952); Farias Brito e a filosofia do espírito, de Alcantara Nogueira (Freitas Bastos, 1962 ); A ética e o direito em Farias Brito, de Paulo Condorcet (Liber Juris, 1995); A filosofia como atividade permanente em Farias Brito, de Thadeu Weber (La Salle, 1985); O pensamento de Farias Brito, de Carlos Lopes de Mattos (Herder, 1962).

Em termos biográficos, temos Farias Brito: o homem e a obra, de Jonathas Serrano, publicado pela Cia. Editora Nacional, em 1939, considerada uma obra clássica na área. Em 2008, Julio Filizola Neto defendeu tese de doutorado abordando o núcleo de seu pensamento e analisando as críticas vigentes: Farias Brito, um filósofo brasileiro: vida, pensamento e críticas historiográficas, apresentada na Faculdade de Educação da UFCE-Universidade Federal do Ceará e pode ser consultada clicando aqui.