JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

PANDEMIA DO C-19 – O QUE É MESMO “ESSENCIAL”?

Hoje nosso texto vai fazer jus, literalmente, ao título escolhido anos atrás para a coluna. Vamos enxugar gelo e, para isso, vamos colocar nossas luvas plásticas – pouco diferentes das que estão sendo usadas aqui e alhures, como meio de prevenir o contágio pelo C-19.

Assim, para não ficarmos tão distantes do assunto Covid-19, que tem tomado até mais da metade do tempo que qualquer padre tem usado nos sermões das missas dominicais, vamos falar do “fique em casa”, que está levando alguns miseráveis à cometer suicídio, por não vislumbrarem qualquer perspectiva de solução.

Dito isso, vamos relembrar de algumas profissões que, ainda que não fossem consideradas essenciais, não haveria, jamais, como obedecer o “fique em casa”.

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Arrumador de pinos de boliche:

Você já imaginou, em algum desses dias atuais, baixar o aplicativo no seu celular e fazer uso de uma assinatura para reservar um horário para jogar boliche com um amigo obedecendo todos os critérios recomendados pelas autoridades sanitárias, com o objetivo de reduzir ao mínimo a possibilidade de contágio pelo C-19?

Ou, digamos, você usa de todos os seus direitos para marcar um horário especial naquela Casa de Jogos do Morumbi, bairro luxuoso da capital paulista e, assim sem mais nem menos, o nazi-governador daquele Estado decreta o “lockdown”?

Arrumador de pinos de boliche em plena atividade

E agora, você vai se divertir jogando boliche aonde?

Tudo isso, porque o calça-apertada considera que o “Arrumador de pinos de boliche” não tem família para sustentar, e sua profissão não é essencial. Pode até não ser essencial. Mas, você precisa diminuir o estresse jogando boliche, ora! E quem vai usar o tempo para jogar é pagador de impostos.

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Despertador humano (batedor):

Essa profissão de “Despertador humano”, uma dia já foi muito importante. Importantíssima, diríamos!

Sempre foi profissão executada por mulher, quase que na sua totalidade. Foi oficialmente extinta no ano de 1876, época da Revolução Industrial na Europa.

No Brasil, entretanto, a “profissão” teve curta duração, haja vista que nenhum marido aprovava que sua mulher acordasse e levantasse com o dia clareando para ir tocar canudinho de som na janela de alguém. Deu uma confusão miserável e, querendo ou não, os familiares da casa de onde saíra a mulher também acabavam “despertados”. Despertados por tabela, digamos.

As antigas “profissionais Despertadoras”

Agora, a confusão era maior, quando uma mulher tocava o canudinho ao lado da janela onde um casal dormia, e a dona da casa acordada bradava: “acorda e levanta, pois a rapariga já está te chamando para as safadezas.” Como diria Adonias para Maurino – “deu uma confusão do caraio, para filho-da-puta nenhum ficar sorrindo.”

Nessa pandemia do C-19, com o “fique em casa” determinado pelas autoridades sanitárias, a profissão foi literalmente extinta.

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Leitor de fábrica:

Operários escutam Leitor enquanto trabalham na fábrica de cigarros

Evidente que não conhecia todos os acometidos de C-19 que foram a óbito. Mas, uma coisa eu asseguro: mais de 90% dos acometidos pelo coronavírus que moravam em São Luís e foram a óbito, eram fumantes ou ex-fumantes. Os pulmões, aprendi na universidade, não são um órgão que se “limpe” dando descarga, como um vaso sanitário. Nossas constantes mudanças climáticas exigem mais trabalho dos pulmões – que ainda estão sendo sacrificados com o uso intermitente da máscara.

Assim, é evidente, que o “Leitor de fábrica” cuja profissão era promover entretenimento aos operários da fábrica de cigarros e outros tabacos é alguém dispensável. Descartável e nem precisa vir mais ao trabalho, pois foi uma profissão que desapareceu.

Agora, o operário da fábrica de cigarros, nesse ninguém toca. Afinal, quem produz mais linfomas pulmonares ao mesmo tempo que gera mais arrecadação para os estados?

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Coletor de sanguessugas:

Sanguessuga coletado por profissional especializado

Até o fim do século XIX, a modalidade de tratamento médico conhecida como sangria ainda era utilizada em boa parte do mundo. E isso podia ser feito com o auxílio de sanguessugas, que eram vendidos aos médicos pelos coletores. Hoje a sangria terapêutica ainda é utilizada em casos específicos, como em pacientes com hemocromatose, policitemia vera e poliglobulia (provocada pelo excesso de glóbulos vermelhos no sangue). Mas sanguessugas não são mais necessários.

Tanto quanto a utilização pela medicina, o “Coletor de sanguessuga” foi abolido e tangido das profissões brasileiras através das leis. Senado federal, Câmara federal, assembleias estaduais, secretarias estaduais e municipais, vereadores e auxiliares fizeram lobby e tangeram com sal grosso e cabo de vassouras não apenas os sapos cururus. Tangeram, também, o “Coletor de sanguessuga”. Daí, a exagerada quantidade que temos desses “insetos”.

J.R. GUZZO

“ZONA HÚMIDA”

Se o agronegócio e o governo brasileiros soubessem se defender um pouco melhor na guerra religiosa, e em geral suja, que há anos se dedica a destruir o sucesso da agricultura e da pecuária do Brasil nos mercados mundiais, bem que poderiam propor aos países europeus, os mais excitados em traficar a crença de que a soja e o boi estão acabando com “a Amazônia”, uma nova abordagem para este negócio todo. Que tal, a partir de agora, a França, a Alemanha, a Inglaterra e outros passarem a aplicar em todas as suas propriedades agrícolas as mesmas regras e as leis que o produtor rural brasileiro é obrigado a obedecer aqui dentro – e obedece mesmo, ponto por ponto, sob pena de perder o seu negócio?

Pelo que dizem lá fora da gente, não deveria haver problema nenhum em se fazer isso, não é mesmo? Afinal, presidentes da República, primeiros-ministros, reis, rainhas, os funcionários que mandam nas organizações públicas, mais as classes intelectuais e a mídia, repetem há anos que o Brasil é uma terra de ninguém em termos de responsabilidade ambiental; aqui vale tudo. Bandos de bilionários andam por aí derrubando uma floresta por dia para socar soja, milho e boi em cima. Não há lei nenhuma para controlar essa gente. Os governos deixam fazer tudo – o governo atual, então, praticamente organiza incêndios no Pantanal e está mandando derrubar as últimas árvores da Amazônia. Em suma: é nisso que acreditam, ou que fingem acreditar.

Nesse caso, aplicar a lei brasileira na Europa não iria incomodar ninguém; tudo continuaria, lá, exatamente como é agora, pois leis que não existem não mudam nada. Não é assim? Mas aí é que está: as leis ambientais brasileiras existem, estão entre as mais duras do mundo e, se um dia pudessem ser aplicadas na agricultura e na pecuária dos países europeus, provocariam uma revolução.

Apenas uma exigência, uma só, à qual o produtor rural brasileiro já se acostumou, como está acostumado com o sol e a chuva: 20% da área de todas as propriedades rurais brasileiras (mais que isso, dependendo da região) têm de ser reservadas para matas. O proprietário não pode tirar um galho de árvore nenhuma. Não pode ganhar um tostão com esse quinto da sua propriedade. Mais: se não houver mato na sua terra, tem de plantar, com dinheiro do seu próprio bolso, ou então comprar, também com dinheiro do seu próprio bolso, uma nova área só com árvores para juntar à sua terra. É óbvio que não recebe nenhuma compensação do Estado, nem abatimento de um centavo de imposto, pelo investimento que faz em favor do meio ambiente; ao contrário, a única coisa que recebe são multas a cada vez que a vigilância por satélite ou o fiscal detectam que está faltando alguma árvore que deveria estar lá.

Então: podemos sugerir, por exemplo, que o presidente Macron crie um esquema igual para a França – já que ele vive à beira de um ataque de nervos diante do agro brasileiro. O Brasil pode propor, também, que os agricultores europeus não cheguem a mais de 50 metros dos seus rios, nem toquem nas matas ciliares. Melhor ainda: por que não aplicam por lá o novo “zoneamento econômico e ecológico” de Mato Grosso? Essa última criação dos ambientalistas militantes em nosso serviço público considerou 4 milhões de hectares do Vale do Araguaia como “zona úmida” e em “zona húmida”, por decisão dos autores do “zoneamento”, não se pode produzir nada, nem peixes criados em tanques de água.

Seria interessante ver o que aconteceria se os governos ecológicos da Europa declarassem “zonas húmidas” de 4 milhões de hectares nas bacias do Rio Sena, ou do Rio Reno, ou do Rio Pó – e botassem o povo de lá para fora.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

ERNESTO DE AGUIAR MONTEIRO – OLINDA-PE

Magnânimo e Excelso Editor:

Minha obrigação de dizimista fubânico foi cumprida.

Comprovante em anexo.

Saúde e paz!

R. Êita peste!!!

“Magnânimo e Excelso”

Fiquei ancho que só a peste com esta saudação, meu caro leitor.

Alegrou o meu domingo, que amanheceu chuvoso aqui no Recife.

Mas alegre mesmo quem ficou foi Chupicleide, nossa secretária de redação.

Hoje, último dia do mês, é o dia do pagamento dela.

De modo que o salário da bichinha vai ser pago integralmente, graças à generosidade de vocês leitores, que sustentam esta gazeta escrota nos ares.

Aproveito para também agradecer as doações que foram feitas pelos leitores Luiz Cesar Pinto, Rita L.G. e Miguel Lacerda.

Saúde, paz, amor, felicidade e longa vida pra todos vocês!!!

“Obrigadíssima, meus queridos. Vocês são uns amores. Beijos, beijos, beijos!!!”

A PALAVRA DO EDITOR

A PALAVRA DO EDITOR

EMPATIA OU EMPATE?

Quando o “fique em casa” começava a dar sinais de que era só um slogan e não uma política sanitária, alguns setores da sociedade começaram a se mover para um funcionamento responsável, preservando os vulneráveis. Ainda corria o primeiro semestre de 2020 e o time do Flamengo começou a treinar, ao mesmo tempo em que liderava um entendimento com a federação de futebol do Rio para uma retomada segura da temporada competitiva. Foi um escândalo.

O clube com a maior torcida do país passou a ser acusado de irresponsável, insensível, criminoso, letal. Montou um protocolo rigoroso de segurança sanitária, com testagem permanente de todos os atletas, isolamento dos sintomáticos, tratamento dos eventuais infectados, proteção e distanciamento para o staff. Transmitiu jogos pela internet, levando seu canal a bater o recorde mundial de audiência do YouTube. O técnico português Jorge Jesus, que levara o clube à conquista da Taça Libertadores da América, conhecido por sua postura humanitária, continuava à frente da equipe, aos 66 anos de idade. Ainda assim a patrulha não dava trégua.

Um comentarista esportivo chegou a dizer que ia “morrer muita gente” por causa da retomada do futebol liderada pelo Flamengo. Jogando de portões fechados no Maracanã, o clube foi crucificado por estar atuando próximo a um hospital de campanha. O Botafogo, por exemplo, cuja diretoria se colocou contra a retomada do campeonato (mas jogou assim mesmo) tinha a “atenuante” – segundo os empáticos de ocasião – de jogar no seu estádio, o Engenhão, mais distante do hospital de campanha do Maracanã. Se “fique em casa” era política sanitária, “jogue longe do hospital” também poderia ser. Cada um com a sua noção de solidariedade.

Com um ano de pandemia, a hipocrisia fantasiada de empatia continua firme. Autoridades desvairadas fazem política decretando lockdown e toque de recolher indiscriminadamente, sem qualquer critério que distinga e proteja os vulneráveis – com transportes públicos circulando cheios, “pancadões” na periferia e as próprias autoridades trancadoras fazendo o contrário do que obrigam os outros a fazer. Bruno Covas deixou São Paulo trancada no fim de semana e foi ao Maracanã assistir à final da Taça Libertadores no meio de 2,5 mil pessoas. Ele disse que estava “no seu direito”.

Claro que sim. No momento em que se revoga o bom senso e passa a vigorar o Estado Demagógico de Direito, você pode fazer o que lhe der na telha se meia dúzia de manchetes sustentarem a sua malandragem. Você pode até se divertir com futebol pregando o imobilismo total. Nada é impossível para a alquimia dos hipócritas.

O Flamengo foi o campeão brasileiro. A coragem, a responsabilidade e a vontade de viver foram premiadas. O Botafogo ficou em último lugar no campeonato e caiu para a segunda divisão. Isto não é um juízo sobre clubes – nem sobre o glorioso Botafogo, que se confunde com a história do futebol mundial, nem sobre o Flamengo, que aliás não é o time deste signatário. Isto é só um lembrete de que o troféu dos covardes é, e continuará sendo, fingir empatia para empatar a vida alheia.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

CARLOS EDUARDO – RECIFE-PE

ASSALTANTE TRAPALHÃO

Amiga cordial, renomada profissional de saúde, comprou recentemente belo automóvel. Após o exaustivo trabalho noturno, retornando ao lar, esta manhã, (26.02.2021) foi assaltada.

Instantaneamente entregou as chaves e se mandou sem nem olhar para a face do mal elemento.

O sacripanta levou seu carrão, e como de praxe, prevendo que tivesse GPS e isso atrairia a Polícia,, deixou a viatura em rua próxima do assalto, a fim de ir “depená-lo” com os comparsas, mais tarde, sem ser importunado. Como geralmente fazem os ladrões de automóveis no Recife.

Ocorre que as ações de buscas se fizeram com eficiência e a Polícia localizou o veículo em rua das proximidades do assalto, sem arranhões.

Acompanhada da Polícia e utilizando a chave duplicata, ela resgatou seu “possante”.

O pitoresco da história é que tendo deixado o jaleco em cima da bolsa, no banco traseiro, ele não viu – e na pressa de sair do veículo – levou apenas uma outra bolsa, que estava no banco dianteiro, que continha sua marmita, deixando, assim, documentos e dinheiro intactos na bolsa principal, encontrada quando a moça recuperou o carro.

Sorte e procedimento correto. A proprietária entregou o carro sem fazer alarde. Recuperou fácil seu bem, sem prejuízo. Havia colocado a bolsa principal no banco de trás e cobrira com a farda de trabalho. Assim, o afoito ladrão se foi sem nada levar.

Certamente terá levado um susto e ficou “mordido” de raiva, quando mais tarde foi procurar o produto de seu “trabalho” e só encontrou o estacionamento vago. Nécas do carro.

Azar dele e lição para a proprietária.

Aliás, já se disse que mulheres sozinhas não devem conduzir automóveis, notadamente se forem de alto valor e novos. Mas, fica o exemplo.

DEU NO X

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Vilanova Artigas

João Batista Vilanova Artigas nasceu 23/6/1915, em Curitiba, PR. Engenheiro, Arquiteto, urbanista, professor e líder da “Escola Paulista”, de importância fundamental na formação de uma geração de arquitetos brasileiros. Foi um dos fundadores da FAU-Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e autor do projeto de reforma curricular, na década de 1960, dando novos rumos à profissão, com a inclusão do desenho industrial e programação visual no exercício da arquitetura.

Ainda estudante universitário, frequentou o curso de desenho artístico da Escola de Belas-Artes, travando contato com artistas do “Grupo Santa Helena”, como Alfredo Volpi, Francisco Rebolo e Aldo Bonadei. Tal convivência influenciou seu trabalho como arquiteto. Formou-se engenheiro-arquiteto pela Escola Politécnica da USP em 1937, onde o ensino da arquitetura se dá a partir da engenharia e não das belas artes, como ocorreu no Rio de Janeiro. Foi estagiário na Construtora Bratke e Botti e pouco depois, junto com Duilio Marrone, abriu sua empresa de projeto e construção, a “Artigas & Marone Engenheiros”. Em 1944 montou seu próprio escritório de arquitetura, tendo como parceiro o calculista Carlos Cascaldi. Enquanto desenvolve os projetos, tornou-se professor da Escola Politécnica e engajou-se no processo de regulamentação da profissão de arquiteto.

Junto com outros colegas, criou em 1943 a representação do IAB-Instituto dos Arquitetos do Brasil, em São Paulo. A partir daí dá-se o envolvimento com a política e no ano seguinte filiou-se ao PCB-Partido Comunista Brasileiro. Em 1946 ganhou bolsa de estudos da Fundação Guggenheim e passa 13 meses estudando e viajando pelos EUA. De volta ao Brasil, em 1948, liderou um grupo de arquitetos na criação da FAU/USP, onde passou a lecionar. Entenda-se “criação” no sentido literal, pois é de sua autoria o projeto da nova sede da FAU, que hoje leva seu nome. No pós-guerra e na medida em que a Guerra Fria avança, seu discurso ideológico vai se acentuando nos textos que escreve para a revista “Fundamentos”, ligada ao PCB: “Le Corbusier e o imperialismo” (1951), e “Os caminhos da arquitetura moderna” (1952).

Pouco depois, foi conhecer a União Soviética e ficou desencantado com a arte e arquitetura do “Realismo Socialista”. Passou por uma crise profissional que durou até 1950, e inicia projetos residênciais, tais como as casas de Olga Baeta, Rubem de Mendonça e Taques Bittencourt. Em seguida realiza projetos escolares para o governo de São Paulo, na administração Carvalho Pinto, dando início às relações entre arquitetura moderna e o poder público, pouco comum na época. Nos anos 1950-1952 realizou os projetos da Rodoviária de Londrina (atual Museu de Arte) e do Estádio do Morumbi, do São Paulo Futebol Clube, na época o maior estádio do mundo. Em 1961 realizou alguns projetos, que vieram definir as linhas mestras da chamada “Escola Paulista”: Anhembi Tênis Clube, Garagem de Barcos do Iate Clube Santa Paula e prédio da FAU/USP, sua obra mais acabada e definidora de uma nova arquitetura. No ano seguinte passou a se dedicar ao ensino da arquitetura e propõe inovações marcantes na reforma do currículo, que foram adotadas noutras escolas de arquitetura.

Com o golpe militar de 1964, foi preso por alguns dias e ficou exilado por um ano no Uruguai. Na volta ao Brasil passou a viver na clandestinidade até 1967. Voltou a trabalhar no ano seguinte em projetos públicos, junto com Paulo Mendes da Rocha e Fábio Penteado, na construção do Parque Cecap, em Guarulhos, um enorme conjunto habitacional. Em 1968, com o Ato Institucional nº 5, foi afastado mais um vez da FAU e ficou impedido de atuar plenamente por 10 anos. Nesta etapa difícil da vida profissional foi consolado pela UIA-Union International des Architects com o Prêmio Jean Tschumi, em 1972, por sua contribuição ao ensino da arquitetura. Em 1979, quando se dá a anistia, voltou a lecionar na FAU na condição de professor-assistente.

Por uma ironia do destino ou “advertência”, neste período foi professor de “Estudos de Problemas Brasileiros”, uma disciplina imposta pela ditadura às faculdades como instrumento de incentivo ao nacionalismo. Ele aproveitou a “advertência” e levou à FAU, para dar palestras, alguns intelectuais de esquerda, como o ator Juca de Oliveira, o pintor Aldemir Martins e o cardeal-arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns. Em 1984 retomou o que lhe era de direto: o posto de professor-titular. No concurso, na forma de arguição, para ocupar o cargo, definiu a essência de sua arquitetura: “Quanto a mim, confesso-lhes que procuro o valor da força da gravidade, não pelos processos de fazer coisas fininhas, uma atrás das outras, de modo que o leve seja leve por ser leve. O que me encanta é usar formas pesadas e chegar perto da terra e, dialeticamente, negá-las.”

Seu retorno às aulas de arquitetura na FAU foi festejado pelos alunos e comunidade acadêmica, mas infelizmente não durou muito, faleceu no ano seguinte, em 12/1/1985. O Brasil perdeu um dos maiores incentivadores do ensino na arquitetura e um dos seus melhores arquitetos. Em quase 50 anos de profissão, deixou cerca de 700 projetos de obras públicas e residências. No mesmo ano a UIA-Union Internationale des Architects, concedeu-lhe mais uma homenagem: o Prêmio Auguste Perret 1985, pelo conjunto da obra. Expressiva parte dessa obra ficou registrada no seu livro Caminhos da arquitetura, publicado numa bela edição da editora Cosac Naify, em 2004, e na sua “Casa Vilanova Artigas”, em Curitiba, aberta ao público.

Informa a crítica que sua arquitetura é derivada da engenharia e não das belas-artes, sintetizada em sua frase “Arquitetura é construção e arte”. Melhor dito, está “expressa na criação de grandes vãos e no amplo emprego do concreto armado e aparente, ressaltando o perfil das estruturas e os esforços a que está submetida”. Revela-se aqui certa influência do arquiteto Oscar Niemayer, que utilizando-se também do concreto armado, enfatizava mais o lado artístico, a beleza plástica em suas obras. Em 2015, ano do centenário de seu nascimento, diversas atividades foram realizadas em sua memória: filme Documentário Vilanova Artigas: o arquiteto e a luz, dirigido por Laura Artigas e Pedro Gorski; lançamento do livro Vilanova Artigas, de Rosa e Marco Artigas e uma exposição –Ocupação Vilanova Artigas – no Itaú Cultural.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

LEVI ALBERNAZ – ANÁPOLIS-GO

Caro Editor:

Lula criticou o decreto presidencial de flexibilização para obtenção de armas, e disse que se ele for eleito em 2022, a população será desarmada.

É bem a cara da esquerda: bandidos armados, população desarmada.

Já um deputado do PT apresentou projeto para proibir o uso de arma de fogo por colecionadores, atiradores e caçadores, e para promover o fechamento de clubes de tiro.

Nenhuma linha do projeto petista busca desarmar o tráfico, as milícias, as gangues, as facções criminosas.

Também por isso a esquerda vai perder novamente para Bolsonaro.

Os idiotas do PT são grandes cabos eleitorais do Presidente.

A PALAVRA DO EDITOR

A NOVA ESCRAVIDÃO DOS NEGROS

A escravidão foi uma prática nefasta criada pelo homem branco ocidental, subjugando os negros para trabalho forçado em fazendas, e graças aos democratas progressistas tivemos sua libertação, sendo que hoje os mesmos democratas são os que lutam por justiça racial. Ao menos essa é a narrativa oficial nas universidades, na mídia e na política. Que tal, agora, a verdade?

É para desfazer essa enorme mentira, ou mesmo inversão total, que Candace Owens escreveu seu livro Blackout, sobre como os negros podem se libertar pela segunda vez das plantations democratas. Owens é uma jovem negra que virou celebridade por rebater com propriedade e firmeza as ladainhas esquerdistas, e não por acaso o livro virou um best-seller quase imediatamente. Trata-se de uma leitura instigante, com parcial autobiografia, resgatando os fatos que o Partido Democrata adoraria enterrar de vez.

Nos discursos dos democratas, os “supremacistas brancos” seriam sinônimo dos conservadores em geral e representariam a maior ameaça aos negros na atualidade, e com base nessa retórica a esquerda consegue normalmente mais de 80% dos votos da comunidade negra em toda eleição. Mas é tudo calcado numa grande mentira. Os democratas apostam na vitimização eterna das minorias, alegando que o sistema é racista, que o problema é estrutural, e com isso conseguem se esquivar da realidade.

O problema, alega Owens, é acima de tudo cultural. Para começo de conversa, a desproporcional ausência paterna no lar dos negros. Fora isso, a própria mentalidade de vítima, cobrando “reparação” em vez de assumir as rédeas do próprio destino, com responsabilidade. O esgarçamento do tecido social está na raiz dos problemas: enquanto acidente de carro é a causa número um de morte de jovens brancos, o homicídio é a maior causa entre jovens negros. Mas não pela polícia, como a narrativa do Black Lives Matter dá a entender, e sim por outro negro.

Os negros representam 13% da população norte-americana, mas são responsáveis por cerca de 40% dos crimes violentos, um terço dos abortos, e a imigração ilegal, promovida pela esquerda democrata, atinge diretamente as comunidades negras com competição desleal. Por meio do welfare state, o mecanismo de incentivos fez a mulher negra “casar-se” com o Estado e levou muitos homens a abandonar suas responsabilidades. Sete em cada dez crianças negras nascem fora do casamento, o que aumenta os riscos de abuso sexual, de problemas com drogas e uma educação capenga.

Tudo isso pode e deve mudar, mas não pelos meios defendidos pela esquerda. Ser um norte-americano negro hoje significa, para a autora, adotar uma narrativa predeterminada de vida: uma rotina de fracassos sem um culpado direto por conta de uma impotência individual. Atacar o “sistema” é mais fácil do que admitir essas falhas, que acabam sendo retroalimentadas pelo discurso vitimista da esquerda. As gerações anteriores tiveram de lutar pela liberdade, mas hoje os negros aceitam passivamente os grilhões impostos pela elite branca democrata.

O que Candace Owens mostra no livro é que o Partido Democrata, apesar de visto como libertador dos negros, não foi capaz de entregar os resultados prometidos ou reduzir o hiato em relação aos brancos. Os negros servem como mascotes de ricos e poderosos como Hillary Clinton, Joe Biden e Bernie Sanders, mas enfrentam um risco 2,5 vezes maior de viver na pobreza e uma taxa de desemprego bem maior (à exceção do governo Trump, que conseguiu levá-la para seu patamar mínimo histórico).

Ou seja, apesar de uma imensa maioria dos votos negros ter ido para os democratas nas últimas décadas, as disparidades persistem. E ninguém seria louco o suficiente a ponto de afirmar que há mais racismo hoje do que em 1960, com segregação institucional e tudo. Insanidade é repetir tudo igual e esperar resultados diferentes, alertou Einstein. A esquerda vem pregando mais governo como solução, mas essa receita se mostrou um completo fracasso. Owens propõe uma alternativa libertadora: recusar essas amarras impostas pela elite democrata, ou seja, um blackout dessa agenda tóxica e iliberal dos progressistas.

Menina pobre, Owens aprendeu com os avós a assumir responsabilidades em sua vida. Ela teve uma experiência pessoal reveladora, porém, quando acusou um colega da escola por mensagens racistas deixadas em seu telefone. O episódio de fato aconteceu, mas o motivo não fora racial. A repercussão, não obstante, foi enorme e ONGs e veículos de comunicação se meteram no assunto. Mas ninguém quis escutá-la. Estavam atrás apenas da narrativa: menino branco ofende menina negra. Quase que Owens se perdeu na vida após o ocorrido, por se ver nessa posição de coitadinha, vítima do mundo, sendo que ela sabia, no fundo, ter cometido uma injustiça com o amigo.

Felizmente ela foi capaz de se libertar dessa posição de vítima. O pensamento de que seu avô tinha enfrentado os “garotos” da Ku Klux Klan fez com que ela tivesse mais coragem para encarar seu destino. Seria ridículo bancar a vítima nos anos 2000 de um “racismo sistêmico” quando seus ancestrais partiam de cabeça erguida para cima de verdadeiros racistas agressores.

O que Owens entendeu é que a esquerda só liga para a sensação de superioridade moral, para a narrativa, ignorando os fatos e a realidade no processo. Os negros não precisam aceitar esse discurso de que são uma subclasse em constante necessidade do resgate democrata. O que ela percebeu é que a política esquerdista invariavelmente prejudica os negros norte-americanos. E um dos aspectos mais nefastos desse mal vem da destruição da família.

Owens dedica alguns capítulos para resgatar a história, para expor o racismo dos líderes democratas do passado, mesmo aqueles tidos como “libertadores”, como Lyndon Johnson. Ela mostra que a própria KKK foi obra de democratas, enquanto eram os republicanos que defendiam a liberdade. Owens também cita a progressista Margaret Sanger, fundadora do Planned Parenthood, a maior fábrica de abortos do planeta, que não passava de uma eugenista. Ela também expõe os desvios do movimento feminista atual, com seus ataques à “masculinidade tóxica”. E condena o clima asfixiante nas universidades, tudo isso como uma espécie de “luxo” de uma elite mimada que vive em abundância.

O que Candace Owens rebate no livro é a hipocrisia socialista, que usa os negros como instrumentos, nada mais. Voltando ao começo, a verdade é praticamente o contrário da narrativa esquerdista. A escravidão é uma prática que sempre existiu, sem distinção de raça ou cor, e que terminou justamente no Ocidente. Os negros africanos escravizaram e ainda escravizam outros negros, os democratas foram os principais beneficiados dessa escravidão em suas plantations, foram também os racistas por trás da KKK, e hoje montaram um esquema de perpetuação da dependência negra ao Partido Democrata, como em novas plantations, contando com o analfabetismo funcional produzido pelas escolas públicas. Os linchamentos aos que desafiam esse modelo são virtuais, com “cancelamento” ou prejuízo profissional.

Em suma, mudaram os métodos, mas os resultados seguem parecidos: negros continuam “escravos” dos brancos da elite democrata, e o livro de Owens é um chamado à luz, para enxergar essa realidade, assim como uma convocação para um Blexit, ou seja, uma nova libertação.