BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

JOSÉ PAULO CAVALCANTI - PENSO, LOGO INSISTO

25 DE ABRIL, SEMPRE

“O que há num nome?”, se pergunta Shakespeare (em Romeu e Julieta). Porque, nesse nome, pode haver tudo e nada, amor e perdição, liberdade, sonho, mistério, miséria, Destino, tragédia, o espanto. E por trás dele sobrevivem, com frequência, todas as contradições da alma humana. Saramago seguiu nessa trilha, mais tarde (em Todos os nomes), ao fazer uma pergunta enigmática, “conheces o nome que te deram?”. Ironicamente, nesse livro, apenas um personagem tem nome, quase um não nome, que é José. E no Ensaio sobre a cegueira como que conclui, sem mais esperanças, “os nomes deixam de ter sentido”.

E numa data o que haverá?, eis a questão. Em Portugal são tantas importantes: 1128 (Batalha de São Mamede), 1139 (Ourique), 1383 (Aljubarrota), 1578 (Alcácer Quibir), 1580 (quando Camões encontra sua paz), 1640 (Restauração Portuguesa), 1755 (o grande terremoto), 1910 (República), 1935 (quando morre o homem Fernando Pessoa e começa a nascer a sua lenda). Importante por conformar, em cada uma delas, o próprio coração da nação portuguesa. Aquilo que há, nela, de mais sagrado. Faltando, nessa relação, 1974 ‒ quando se festeja, em 25 de abril, a Revolução dos Cravos. Agora (ontem), comemorando 50 anos.

Assim se chama, toda gente sabe disso, por ter a população distribuído cravos aos soldados que participaram do movimento. Zeca Afonso até anteviu (em Grândola, vila morena) “O povo é quem mais ordena”. A deusa Sophia de Mello Breyner Andresen anunciou (em 25 de abril), alegremente, “Esta é a madrugada que eu esperava/ O dia inicial inteiro e limpo/ Onde emergimos da noite e do silêncio/ E livres habitamos a substância do tempo”. Manuel Alegre (em Lisboa perto e longe) já fala numa “Lisboa que ninguém verá de joelhos” por ter “um cravo em cada mão”. E Ary dos Santos (As portas que Abril abriu) definiu bem “Dentro de um povo escravo/ Alguém que lhe queria bem/ Um dia plantou um cravo,/ Era a semente da esperança/ Feita de força e vontade/ Era ainda uma criança/ Mas já era a liberdade”.

Só que a data nos leva, também, a outras questões. Que a história das transições, de um governo autoritário para a Democracia, são sempre complicadas. A palavra verdade tem origens variadas. Na Roma antiga corresponde à veritas, mais ligada à precisão. Já no hebraico, emunah, está mais próxima à confiança (num deus ou num amigo) e dela deriva o Amém (“assim seja”). Mas na tradição grega ocidental, aletheia, corresponde só e sobretudo ao contrário da palavra esquecimento. Por ser algo tão surpreendentemente forte que não abriga nem o ressentimento, nem o ódio, nem a indiferença, nem o perdão. É memória, mas é também História. É a capacidade humana de contar aquilo que aconteceu, o como e o porquê. E as novas gerações têm direito a essa verdade. Sobretudo merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos ou parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre, num moto-contínuo, a cada dia. É como se disséssemos que, se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulo, se existem túmulos sem corpos, nunca, nunca mesmo, deve existir uma História sem voz. E quem dá voz à História são as mulheres e os homens livres que não têm medo de escrevê-la.

Em Portugal esse desejo de aclarar o passado, anunciado com pompas em 1977, ganhou forma só com a criação, pelo então primeiro-ministro Mário Soares, da Comissão do Livro Negro (Decreto-lei 110, de 26/05/1978). Sobretudo, assim declarou, como “forma de combater o ressurgimento de ideologias fascistas”. Nascida com a intenção de conseguir a “reposição da verdade histórica”, já no art. 2º, 2, dispunha não poder atingir fatos “que respeitem à organização, funcionamento e disciplina das forças armadas”. Como que reproduzindo a máxima do Estado Novo, “o Exército é o espelho da nação”. O que, definitivamente, compromete seus resultados. Chegou a publicar 25 volumes de conclusões, hoje esquecidos nas estantes e jamais reeditados. E, assim funcionou, a tal comissão, até ser extinta pelo Decreto-Lei 22, de 11/01/1991. Sem deixar saudades. Embora haja estudiosos como Priscila Hayner que, levando em conta se ter trabalhado com documentos de inquérito, imprensa da época e entrevistas qualitativas, consideram que poderia ser tida como uma espécie de Comissão da Verdade, os estudos comparados não lhe colocam nesse nível. Mas já foi algo importante, claro, uma espécie de resposta ao passado.

No Brasil, diferentemente, havia o consenso de que toda a verdade deveria vir a luz. A Comissão Nacional da Verdade nasceu dessa visão. Criada, pelo Congresso Nacional (Lei 12.528/2011), entre seus objetivos sobressai logo no art. 3º “Promover, com base nos informes obtidos, a reconstrução histórica dos casos de graves violações de direitos humanos”. Quase 50 anos depois do Golpe Militar de 1964. E quase 30 anos depois da transição; com a eleição indireta, para Presidente da República, de um representante da oposição civil ao sistema ‒ Tancredo Neves. A Comissão Nacional da Verdade situou o Brasil entre os 41 países que, diante de múltiplos mecanismos da Justiça de Transição, criaram comissões da verdade para lidar com um legado de graves violações dos direitos humanos.

A história de quem exercia o poder, então, já era conhecida. Faltava a dos vencidos. Caminhamos nessa linha. E chegamos a 434 casos em que foi possível definir quem morreu, em que circunstâncias, e quais foram os responsáveis por essas mortes. Também a mais que dois mil casos de opositores do sistema desaparecidos, sem que pudéssemos chegar a provas. Além de descrever os subterrâneos da tortura e da repressão. Para registrar, fui um dos 6 brasileiros escolhidos para deixar claro esse pedaço da história do Brasil. Durante três anos nos esforçamos para contá-la com a precisão humanamente possível. Uma grande honra, assim considero. E creio que valeu a pena.

Fez bem, Portugal, em traçar o caminho que escolheu? Difícil saber. E talvez, depois de 50 anos, a pergunta já não faça qualquer sentido. Acabou, nada restou a fazer. Afora contar o que se passou em livros, o que vem se fazendo, como os de Alfredo Cunha, Fernando Rios, José Pedro Castanheiro, tantos mais. Sempre tendo em conta ser importante lembrar a história. George Orwell (1984) ensinava “quem controla o futuro controla o presente e quem controla o passado controla o futuro”. Bem a propósito, Pessoa encerra O Infante (de Mensagem) dizendo “Senhor, falta cumprir-se Portugal”. Falta mesmo. Só que, afinal, isso vai aos poucos se cumprindo, ao conhecer melhor seu passado. E como hoje todos repetem, nas ruas, Viva o 25 de abril, sempre.

DEU NO JORNAL

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SANCHO PANZA - LAS BIENAVENTURANZAS

UNICORNUM VERUM – DON’T WORRY, BE HAPPY

‘Tetê 5T’ manda a Sancho (por que cargas d’água?) vídeo de ‘bombeiro gato’ (o termo estava no texto, não cabendo a Sancho nenhuma avaliação sobre o espécime – fruta com caroço não me apetece) ensinando a fazer brinquedo com luva, que viraliza e causa alvoroço na mulherada: ‘Moço do céu’ disseram em uníssono as mais assanhadas. Encaminhado foi para minha irmã viúva (deve estar a precisar de uma sessão colírio) e para a fogosa Rosallie, para devida apreciação e siriricação, se lhes aprouver.

Tetê, em momento domingo no parque, é questionada por um guarda de trânsito: ¿Tienes licencia para esas curvas? Porque me estás volviendo loco. Me informa o ‘happy’ curitibano Zé, sobrinho da Tetê, da parceria do “Coxa” com o aplicativo de entregas de bebidas Zé Delivery e a Ambev. A plataforma criou o programa “Cashback do Zé Delivery”, que trará benefícios e descontos para os sócios do Coritiba Foot Ball Clube.

Sorry for having great chronicles. Nos belos Alpes da França existe uma montanha chamada La Salette. Para surpresa de todos estou, não no cabaré ou nos “alpes franceses”, mas na Paróquia Nossa Senhora da Salete, em Santo André. Orai, Sancho!!!

«Às vezes de pequeninos males advêm grandes remédios.» Vitorino Nemésio, Varanda de Pilatos (1927), p. 51. Urtiga Ortega, Jenna Ortega. Es Viernes pero hablemos de Miércoles. La serie Miércoles ficha a Thandiwe Newton y Steve Buscemi para la temporada 2. ¡Los mejores juntos de nuevo! Buscemi y Newton se unen a los que han salido con vida tras el final de la temporada 1, o sea Emma Myers como Enid, Catherine Zeta-Jones como Morticia, Fred Armisen como el tío Fester, Luis Guzmán como Gómez y Jenna Ortega en el papel principal.

Salete (comentada na pretérita sexta) seria, por óbvio, alguma amiga do Zé e sem nada a ver com amiga de minha irmã chamada Salete, irmã da Arlete, primas da Valdete, trio a constar em qualquer ranking das mais feias; mais feias que bater em mulher grávida, encoxar a sogra no tanque, furtar o lanche do gordinho, tropeçar com as mãos no bolso, paraguaio baleado (esta peguei emprestado dos gaúchos), tomar pirulito de criança, usar viagra pra comer a cunhada, tomar goleada do vasquim, briga de irmãos por causa de mistura e banguela gritando gol do curintchia.

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PENINHA - DICA MUSICAL

DEU NO JORNAL

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DEU NO JORNAL

RODRIGO CONSTANTINO

UM PRÊMIO MERECIDO

Ministros do STF durante lançamento do prêmio, em setembro do ano passado.

Ministros do STF durante lançamento do prêmio, em setembro do ano passado

“Deputada bolsonarista faz fala xenofóbica ao comparar SC com o Maranhão: ‘Tem mais gente no Bolsa Família que CLT'”. Essa é a manchete do Globo, que tinha o seguinte subtítulo: “O comentário preconceituoso de Júlia Zanatta (PL-SC) foi rebatido no colegiado da CCJ”. Fala xenófoba? Comentário preconceituoso? Mas não é apenas… um dado?

Barbara, do canal TeAtualizei, comentou: “A realidade é ofensiva. Reescreva-a”. E esse parece ser o mote da velha imprensa, em especial a mais esforçada de todas em “empurrar a história”. Trocam-se os fatos por narrativas. Se a realidade vai contra a ideologia, pior para ela. O objetivo não é retratar da forma mais fiel possível o mundo, fazer jornalismo, mas sim “mudar a história”.

No caso do bolsonarismo, essa substituição da cobertura mais imparcial por uma militância partidária atingiu patamares bem toscos. Colunistas como Miriam Leitão viraram “memes” ambulantes, com piadas prontas ao tentar aliviar a barra do petismo e demonizar seu maior adversário. A apresentadora Daniela Lima vai na mesma linha.

Por isso ninguém ficou chocado com a descoberta de que a TV Globo e a Globo News venceram o Prêmio Nacional de Jornalismo do Poder Judiciário. Que o Poder Judiciário tenha um prêmio desses já é coisa um tanto surreal, digna de distopias totalitárias. O STF vai julgar quem está fazendo “jornalismo” satisfatório agora? Como ficaria a imparcialidade na hora de cobrir… o próprio Poder Judiciário?

Parece tudo um grande deboche, um escárnio, um acinte. Ministros supremos rasgam a Constituição da qual deveriam ser os guardiões, e militantes disfarçados de jornalistas aplaudem e chancelam o abuso de poder em nome do combate às Fake News, ao discurso de ódio e ao golpismo fascista. É tudo tão patético que até seria cômico, não fosse tão trágico para a democracia que alegam defender.

Mas uma coisa devemos admitir: o tal prêmio é merecido mesmo! Afinal, os magistrados ativistas devem reconhecer o empenho dos veículos de comunicação ao defender o indefensável. Fosse na antiga União Soviética, o Pravda seria o vencedor deste prêmio. Fosse em Cuba, o Granma. É justo, portanto, que a Globo seja a vencedora no Brasil…