JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

A lagarta “mimosa”

Acredite, tudo aconteceu na Fazenda Aurora, uma das maiores propriedades de Ricaço, homem caladão, que só se preocupava em ficar mais rico com o cultivo de girassóis.

Numa manhã chuvosa de domingo, na casa de Dona Lurdinha, os moradores só perceberam os estragos feitos pela chuvarada, depois que o dia clareou.

Aquele cheiro gostoso e inconfundível de terra molhada ajudava abrir o apetite para o café da manhã, para quem ainda estivesse sonolento, mas já preparado para a caminhada que levaria até à Santa Missa do domingo celebrada por Padre Elói.

Antes mesmo que todos saíssem de casa, o sol deu o ar da graça, desenhando pelas frestas do telhado, verdadeiras obras de arte. E esse mesmo sol começou a agir, esquentando o solo, fazendo com que todos esquecessem que, horas antes, havia caído quase que uma tromba d´água.

Aproveitando que todos saíram de casa a caminho da Igreja, Mimosa, uma horrível e colorida lagarta, resolveu sair do esconderijo, debaixo das folhas grandes, e iniciou seu trabalho de devastação do verde que, de tão bonito, fazia tremer a vista de quem olhasse.

E destruía, ao mesmo tempo que comia, enquanto caminhava aos pulos, na direção da enorme plantação de girassóis. E caminhava aos saltos, ao tempo que se dobrava e desdobrava. Sabida, procurava a sombra das folhas verdes que não lhe interessavam. Ela queria mesmo era os talos e os botões dos girassóis.

À medida que o tempo passava, mais ela comia e destruía. Eis que, uma brisa leve lhe trouxe o aroma dos girassóis, fazendo-a compreender que a plantação ainda estava distante. Continuou comendo. Continuou destruindo, até que, anestesiada, quase dormindo, sequer se deu conta que havia chegado na plantação. Adormeceu.

A alta temperatura lhe trouxe um esconderijo. Uma sombra escura de várias folhas muito verdes. Foi coberta por um casulo. Veio a tarde, veio a noite e, no dia seguinte, veio o amanhecer, o entardecer, e um novo anoitecer.

Um dia, dois dias, vários dias, um mês. Mais um mês, e mais outro. Aquele casulo tomava forma diferente, querendo dizer que não era mais a horrível lagarta Mimosa, por ironia.

Eis que, belo dia – por coincidência, também domingo! – a Primavera chegou, trazendo aquele mar amarelo de centenas de milhares de girassóis.

O casulo, se abria, enfim! E um vento forte açoitou a Natureza, e deu asas a uma bela e pintada borboleta que, ao lado das abelhas, pousava em cada girassol, para agradecer-lhes a beleza da transformação da vida.

Mimosa a lagarta que voou

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